Por André Garcia
Uma análise apresentada recentemente no XXXI Congresso Brasileiro de Custos revelou que o custo total da produção de soja em Sorriso (MT), um dos principais produtores do Brasil, aumentou 55,09% em sete anos. Diante do desafio imposto aos agricultores, a cooperação pode ser uma boa resposta.
A estratégia fortalece econômica e socialmente os associados, minimizando os impactos das oscilações de mercado, como a que foi constatada por Matheus Pawlina e Diego Pierotti Procópio, que apontam que o custo de produção saltou de R$ 4.870,46 por hectare em 2015/16 para R$ 7.553,70 em 2022/23.
Em entrevista ao Gigante 163, o presidente do Sindicato Rural de Sinop, Ilson Redivo, relatou os benefícios do cooperativismo. Ele faz parte da Cooperativa Agroindustrial Vale do Azul (Cooazul), que há 10 anos reúne 11 produtores da região de Sinop, no norte de Mato Grosso.
“Começamos a cooperação para aumentarmos nosso poder de compra. É uma alternativa para que o produtor comum tenha o mesmo poder de compra que um grande, para que haja equilíbrio entre pequenos, médios e grandes”, disse, ressaltando que juntos os associados somam cerca de 40 mil hectares.
Entre os benefícios destacados por ele está o ganho de economia de escala, já que as cooperativas permitem que os agricultores comprem insumos, como fertilizantes, defensivos agrícolas e sementes, em grandes quantidades, obtendo descontos significativos. Isso diminui o impacto das flutuações de preços no mercado.
Assim, a união aumenta o poder de barganha na comercialização e permite negociar melhores preços.
“Com isso conseguimos vender sem atravessadores, porque a produção tem escala. Também é um nivelador de preço, porque se ao invés de colocarmos 1000 sacas a venda colocarmos 50 mil, o atrativo é maior.”
As perspectivas ficam ainda mais atrativas quando se considera que, apesar de um aumento na receita bruta de 38,41% nos últimos anos, a lucratividade caiu 30,3% no mesmo período. No ciclo 2022/23, o lucro por hectare foi de apenas R$ 823,79, reflexo do aumento nos custos produtivos e da menor margem de retorno financeiro.
Assim, a relação benefício-custo (RBC) caiu de 1,24 para 1,10 em 2022/23, indicando que, para cada R$ 1,00 investido, o retorno foi de apenas R$ 0,10. Neste cenário, as despesas com fertilizantes, sementes e defensivos agrícolas se destacaram. Os fertilizantes, sozinhos, representaram 33,98% do custo total em 2022/23.
Neste caso, as cooperativas também mostram sua efetividade. “A redução do custo de insumos depende muito das condições do mercado no momento da negociação, mas, em geral, são maiores em grupos grandes”, explicou Redivo.
Além disso, por meio delas os agricultores têm maior facilidade de acesso a crédito com condições mais favoráveis. Outro aspecto importante é que os associados compartilham infraestrutura e serviços, como armazenagem, transporte e maquinário, diluindo os custos individuais de investimento e manutenção.
“A maioria não tem armazém próprio, por exemplo. Isso acaba nos penalizando na hora da classificação dos grãos, então, a cooperativa permite a formação de lotes uniformes, aumentando o poder de barganha na venda”, afirmou.
Resiliência e mudança de cultura
Tudo isso se traduz em resiliência. O trabalho conjunto permite que os agricultores sejam mais resistentes às crises, compartilhando riscos e encontrando soluções coletivas para desafios como aumento de preços de insumos, mudanças climáticas e flutuações nos preços dos produtos agrícolas.
Conforme o Anuário do Cooperativismo de 2024, Mato Grosso possui 70 cooperativas agrícolas, com um total de 9.369 cooperados que movimentaram R$ 8,9 bilhões em ativos financeiros. Os números, já expressivos, podem e devem crescer ainda mais a partir de uma mudança na cultura de muitos produtores.
“O produtor precisa se conscientizar que é preciso sair do individualismo. As grandes empresas estão se unindo todo dia para terem mais poder de compra, então também precisamos pensar de forma coletiva para nos fortalecermos, aprendendo a nos associarmos para somar e melhorar”, concluiu Ilson.
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