Por André Garcia
Líder do Mercosul na defesa da agropecuária e anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), o Brasil terá papel diplomático de destaque em 2025. No centro desses debates, o agronegócio inicia o ano de olho em tendências que podem definir o futuro do setor e garantir o protagonismo global do País nos debates sobre segurança alimentar e agenda climática.
Há grande expectativa sobre a manutenção da tradição brasileira na liderança na agenda climática. Essa liderança inclui movimentações internas, como a conclusão do Plano Clima, que ambiciona zerar as emissões nacionais até 2050. Com ações estruturadas em duas frentes – Mitigação e Adaptação –, o Plano Clima será subdividido em planos setoriais e tem destaque para a agropecuária.
Para a especialista em Políticas Climáticas do Imaflora, Renata Potenza, diante do financiamento climático ínfimo discutido na COP 29, em Baku, o Brasil deve aumentar a parcela destinada a programas como o Renovagro, a linha de crédito do Plano Safra dirigida à transição para uma agropecuária sustentável e à recuperação ambiental. Para ela, o desafio é dar velocidade e escala a essas práticas.
“É também necessário ampliar a área de pastagens degradadas a serem recuperadas, cuja meta deveria passar dos atuais 17,5 milhões de hectares para 22,5 milhões de hectares, considerando um adicional de 18 milhões de hectares que poderiam ser destinados à produção de alimentos em sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta, evitando novos desmatamentos”, diz.
A substituição de fertilizantes sintéticos por métodos biológicos e a ampliação de plantio direto são outras medidas que devem merecer investimentos. Em sua opinião, para a pecuária, o caminho é a adoção de suplementos alimentares e do abate precoce como medidas para conter a emissão do metano resultante da digestão do gado, responsável por 64% das emissões da pecuária no ano passado.
“Os caminhos existentes e as vantagens de trilhá-los já são bem conhecidos. O Plano Clima oferece ao país e ao setor agropecuário uma oportunidade de colocar na mesa caminhos para uma transformação efetiva e justa no combate às mudanças climáticas. Resta fiar e confiar que o agro nacional abraçará o desafio de apresentar objetivos setoriais transparentes e à altura dessa missão”, afirma ela.
Diplomacia agropecuária
Neste contexto de grande visibilidade para questões ambientais e climáticas, a diplomacia agrícola ganha espaço. Conforme publicação do Globo Rural, especialistas concordam que as regras do comércio internacional vão pautar ainda mais as reuniões de cooperativas, associações e entidades públicas do setor. Para se ter ideia, desde 2023 o governo federal tem ampliado o número de adidos agrícolas, que atuam como representantes em países parceiros; hoje, há 40.
Segundo Carol Pavese, professora de Relações Internacionais da Faculdade Belas Artes, o termo abrange tanto regras do comércio internacional e de abertura de mercados quanto diretrizes de segurança alimentar e manejo sustentável. E isso envolve todo o setor, uma vez que a padronização de normas internacionais, por exemplo, pode excluir pequenos produtores e favorecer apenas os grandes.
“A diplomacia agrícola é uma estratégia de relações internacionais para promover o agronegócio no cenário global, consolidando mercados, negociando barreiras e fortalecendo a presença de seus produtos em regiões estratégicas. Ela envolve ações coordenadas entre governos, setor privado e organizações internacionais para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do setor”, detalha.
Com relação a um cenário de crescente protecionismo, o professor Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, observa que o Brasil vem criando um arcabouço legal para retaliações formais, buscando defender interesses nacionais e manter sua posição estratégica no mercado global. “Estamos consolidando padrões que promovem a competitividade, enquanto enfrentamos desafios de barreiras não tarifárias”, avalia.
Avanço de boas práticas
A boa notícia é que a atenção para práticas agrícolas que podem ajudar o país vem crescendo. É o caso da agroecologia. Conforme a geógrafa Virgínia Mendonça Knabben, o mundo “despertou seu olhar para o solo e sua vida”. Assim, o termo vem ganhando popularidade e centenas de estudantes enveredam para cursos técnicos ou acadêmicos inspirados por Ana Maria Primavesi, cientista precursora do método.
“Observamos um boom de adeptos a essa agricultura respeitosa, viva, biodiversa, inclusiva, agroecológica. Ouvimos palavras e termos novos o tempo todo, como agricultura regenerativa, agrofloresta, sintropia, controle biológico, bioinsumos, e outros, que nada mais são do que novas roupagens para o que a velha e sábia Primavesi ensinava”, explica.
De acordo com ela, o solo possui uma tabela periódica de elementos em que um ativa o outro, ou desativa, dependendo das proporções. Em um solo vivo, essas proporções estão equilibradas. Quando se aduba quimicamente, aumenta-se um ou outro, e para se manter o equilíbrio, todos os outros também deveriam ser aumentados em suas respectivas proporções.
A professora reforça que sem este equilíbrio há uma lenta e contínua decadência da capacidade de produção agrícola. Ou seja, o caminho é manter o solo vivo, com poros para entrada de ar, água, penetração da raiz e boa circulação dos nutrientes. “Sem solos sadios, as plantas também não seriam sadias”, conclui.
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