Por André Garcia*
O clima de novo! Mais uma vez o Rio Grande do Sul vê sua produção de soja ameaçada pelo clima. Se no ano passado o estado enfrentou chuvas extremas, este ano é a seca que preocupa. Produtores estimam perdas de até 80%. Ao contrário de estados como Mato Grosso, onde a chuva não dá trégua para a colheita da soja, as perdas podem ser irreversíveis em áreas onde há limitações físicas de solo, segundo a Emater/RS-Ascar. E ainda podem aumentar se não chover.
Os efeitos são descritos pelo produtor Rafael Fontana, do município de Jóia.
“A previsão não é nada boa, estimamos uma quebra de 80% e mesmo voltando a chover não recupera mais”, disse, destacando que já são mais de 40 dias sem chuvas na área, que totaliza 450 hectares de soja. “O produtor gaúcho tem que ter muita resiliência. Há três anos sofremos com uma estiagem severa e, ano passado, ainda tivemos perdas decorrentes do excesso de chuva. A situação está complicadíssima”.
As chuvas nos próximos dias são críticas. Segundo a Emater, o momento é de definição de produtividade, uma vez que 45% das lavouras estão em florescimento e 10% em enchimento de grãos. No cenário atual, a estimativa é de que 25% da área plantada de soja está em situação favorável, 25% em situação complicada e 50% em alerta, com risco de extrema dificuldade.
Neste cenário, o restabelecimento da umidade é crucial e não apenas para garantir a colheita da oleaginosa. No caso de Fontana, por exemplo, para além dos danos na lavoura, a seca também causou perdas na pecuária de corte e prejudicou a criação de peixes, já que até mesmo o açude da fazenda está com pouca água.
Efeitos da estiagem
No Centro-Oeste do Rio Grande do Sul, os danos nas lavouras são mais acentuados. Além disso, as áreas mais afetadas são aquelas semeadas no início de novembro, que apresentam floração abaixo do esperado, com queda de folhas e flores, resultando em perdas significativas de estruturas reprodutivas e potencial decréscimo na produtividade.
Nas lavouras plantadas em dezembro, a ausência de fechamento das entrelinhas intensifica a perda de umidade do solo, devido à maior exposição ao vento e à radiação solar, o que favorece a reinfestação de plantas daninhas.
Em regiões mais críticas, em razão do longo período sem precipitações ou da presença de solos rasos e arenosos, observa-se mortalidade de plantas jovens por enraizamento inadequado, folhas comprometidas e desenvolvimento vegetativo abaixo do esperado.
Má distribuição das chuvas
A Emater/RS-Ascar reforça que a condição de estiagem não é uniforme. No Rio Grande do Sul, o ciclo é tão irregular que os índices de chuva variam muito, tanto entre diferentes regiões, como dentro de uma mesma região. Por isso, embora mal distribuídas, chuvas mais volumosas possibilitaram a retomada da semeadura da em algumas áreas, como no leste do Estado, onde essa maior regularidade tem contribuído para manter o potencial produtivo mais próximo do projetado.
Com isso, o plantio vem avançando apenas onde já se constata umidade no solo. Mesmo assim, ainda não foi possível atingir a totalidade da área projetada para a safra gaúcha, cujo plantio é de 99%. No momento, 51% das lavouras estão em germinação e desenvolvimento vegetativo, 34% em floração e 15% em enchimento de grãos.
“Em função da estiagem, os sistemas de irrigação estão em operação regular, proporcionando o adequado desenvolvimento das lavouras. Contudo, em razão do aumento da umidade, será necessário monitorar a presença de ferrugem”, diz trecho do informativo da Empaer.
Seca demais, chuva demais
Se o produtor gaúcho enfrentou problemas por causa da seca, no restante das lavouras de soja do Brasil o problema é o excesso de chuvas – que devem continuar nas próximas semanas. Serão 15 dias de precipitações frequentes no Sudeste, Centro-Oeste, em áreas do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e na região Norte, segundo informações da Rural Clima.
Os mapas de acumulados dos próximos 15 dias indicam chuvas de mais de 200 milímetros e, em algumas áreas, esses volumes podem chegar até aos 600 milímetros em regiões específicas da faixa central do país. A consultoria destaca os Estados de Roraima, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e norte de Mato Grosso do Sul.
*Com informações do Globo Rural
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