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Mau negócio: 44% dos CEOs do agro subestimam crise climática

Mau negócio: 44% dos CEOs do agro subestimam crise climáticaForam ouvidos cerca de 4.700 executivos. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

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Por André Garcia

Apesar dos danos causados pela seca no final de 2024 e pelo excesso de chuvas no começo 2025, 44% dos executivos do agronegócio brasileiro não consideram as mudanças climáticas como a principal ameaça ao setor. Os dados são da 28ª pesquisa Global CEO Survey, da PwC, e apontam para uma visão perigosa da situação, já que o clima tem ficado cada vez mais imprevisível.

O que não faltam são exemplos. Para se ter ideia, na outra ponta, a resistência ao tema contribuiu para prejuízos de mais de R$ 300 bilhões aos agricultores brasileiros nos últimos anos, segundo o pesquisador Eduardo Assad, do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro). E esta cifra ainda pode crescer.

“Estou com os dedos cruzados para ver se essa questão da chuva excessiva no mês de fevereiro não vai prejudicar a colheita, aumentando ainda mais as perdas na agricultura. Tudo isso foi dito. Tudo isso foi informado. E aí depois vamos atrás de subsídios do governo para resolver nosso problema”, disse ao Gigante 163.

Mesmo diante deste cenário, de acordo com o levantamento da PwC, entre 2024 e 2025 a porcentagem de CEOS que percebem a real ameaça da instabilidade climática cresceu apenas 2%, chegando a 56% nesta edição. Ao todo, foram ouvidos cerca de 4.700 executivos em mais de 100 países.

Perdendo oportunidade

Sócio e líder do setor de Agribusiness da PwC Brasil, Maurício Moraes explica que, na contramão daqueles que vêm reinventando modelos de negócios para gerar valor, inovação e sustentabilidade, muitos executivos ainda avançam lentamente, limitados por visões de liderança e processos que levam à inércia.

“Para esse grupo, há apenas duas opções: acelerar a reinvenção ou apostar que, com alguns ajustes, os atuais modelos operacionais e de negócios continuem a gerar resultados, mesmo com a IA e a transição para uma economia de baixo carbono redefinindo as dinâmicas de valor no mercado”, afirma.

Mas nem todos os CEOs do agro brasileiro estão dormindo no ponto. Segundo o levantamento, parte deles vêm avançando rapidamente para aproveitar as oportunidades e enfrentar a ameaça climática, tendo 47% relatado alta de receita devido a investimentos climáticos nos últimos cinco anos.

Mais efetividade nas soluções

Seja nos escritórios, com avanço da Inteligência Artificial, nas fazendas, com a adoção de estratégias como a integração lavoura-pasto-floresta (ILPF), ou nos gabinetes, de onde saem as leis, as iniciativas para o setor precisa encarar a realidade e ser mais efetivo em suas ações. E isso, para Assad, significa invariavelmente que elas devem resultar no fim do desmatamento.

“É preciso parar de desmatar. Não adianta vir com essa história de redução da Moratória da Soja ou de tentar transformar na caneta o que é a Amazônia ou que é Cerrado”, diz ele ao lembrar a tentativa da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) de flexibilizar regras ambientais para ampliar o desmate no Cerrado.

 Enquanto este tipo de proposta tramita e parte dos executivos do agronegócio minimiza os efeitos da crise climática, os termômetros comprovam que a Terra está mais quente do que nunca. E outra vez, os pesquisadores reforçam o alerta sobre os riscos para o futuro do Planeta, que, neste ritmo, pode esquentar mais de 2,5° até 2050.

“Não podemos fechar os olhos para isso. Nós temos um grande caminho pela frente para tentar minimizar esses efeitos. É possível, dá para fazer, mas temos que parar de negar que as coisas estão aí”, conclui o pesquisador.

 

 

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