Por André Garcia
Responsável por grande parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE), a produção de carne bovina no Brasil dificulta o alcance das metas climáticas internacionais do País. É o que mostra relatório do projeto DIP-BR da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que aponta a urgência de cessar o desmatamento e intensificar a rastreabilidade do rebanho, garantindo que o gado não tenha origem em áreas com violação ambiental.
O estudo utilizou dados do Censo Agropecuário do IBGE, do SEEG e informações de entidades do setor, como a ABIEC. Em 2022, a agropecuária e o desmatamento responderam por 77% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, com a expansão de pastagens sobre áreas florestais como a principal fonte de emissões.
“O controle desse tipo de emissão envolve a criação de capacidades estatais para rastrear o rebanho, a fiscalização dos processos de desmatamento e a discussão com a sociedade para garantir vontade política”, afirma o coordenador do DIP-BR, Carlos Frederico Leão Rocha.
Além das emissões por desmatamento, o arroto do gado, que libera metano, também é uma fonte significativa de gases.
“Ela libera metano, um gás mais potente que o CO2, que permanece na atmosfera por menos tempo e possibilita impactos mais imediatos”, acrescenta Rocha.
Compromisso brasileiro
Em 2015, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, com foco no controle do desmatamento e das emissões da pecuária. No entanto, o País ainda está longe de alcançar essa meta.
“O governo anterior expressou claramente oposição aos temas de controle das áreas de pastagem e redução do desmatamento e o Congresso tem sido reticente na aprovação de medidas que possam deter o avanço da produção de gado sobre novas áreas de florestas”, afirma Rocha.
Tendência de mercado
O Brasil é o maior exportador de carne bovina desde 2022, com a China sendo o principal mercado, responsável por 54% das exportações. O relatório prevê crescimento nas exportações de carne bovina, o que torna a rastreabilidade do rebanho ainda mais importante para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa.
“A União Europeia e o Reino Unido têm exigências com referência à terra de origem do rebanho, pedindo garantias de não serem terras derivadas de desmatamento, enquanto a China não faz as mesmas exigências”, explica Rocha. Contudo, essa situação pode mudar em breve.
Em 2023, a China anunciou que passará a exigir rastreabilidade do rebanho a partir de 2025, o que aumentará a pressão sobre a produção brasileira para excluir gado de áreas desmatadas e melhorar o controle das emissões.
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