Confira cinco mitos sobre agricultura regenerativa

Por André Garcia

Um relatório da consultoria Boston Consulting Group (BCG) aponta que a agricultura regenerativa pode gerar US$ 100 bilhões até 2050, somente no Cerrado. Com base em dados científicos e experiências de campo, a publicação reforça que a estratégia está longe de ser uma moda passageira ou uma ideia incompatível com a produção em escala.

Para ajudar a acelerar o processo de transição, os especialistas desmentem cinco mitos relacionados à prática. O resultado é reforçado por relatos dos produtores rurais Luis Fernando Laranja, Marize Porto e Jorge Giacomelli, que recentemente relataram ao Gigante 163 os benefícios das estratégias regenerativas. Confira:

Agricultura regenerativa é uma ideologia

Errado. A estratégia não é um movimento dogmático, mas uma abordagem baseada em ciência e décadas de testes em campo. Por meio do conhecimento técnico e de soluções adaptáveis a diferentes realidades, ela já garante produtividade até dez vezes maior, segundo o pecuarista Luis Fernando, que tem propriedades em Mato Grosso, Bahia e Tocantins.

“Assumimos fazendas degradadas, sem investimento prévio, com baixa produtividade. Depois da conversão, conseguimos multiplicar os resultados por seis ou até dez vezes, o que mostra a viabilidade do modelo intensivo com base regenerativa. É uma mudança radical”, afirma Luis.

É só mais uma tendência como a agricultura orgânica

Apesar de dialogar com a agricultura orgânica, a regenerativa vai além e integra o melhor das técnicas. Ou seja, ela não implica o abandono de tecnologias, mas sim sua adaptação. Exemplo disso é a Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), hoje referência em uma importante prática regenerativa: a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

“Intensificamos a produção de soja e milho e, na pecuária, investimos na produção de carne de alta qualidade, com certificações que nos permitiram acessar mercados premium. No componente florestal, além da produção de madeira, estamos explorando oportunidades na geração de créditos de carbono”, conta Marize.

Agricultura regenerativa é o mesmo que agricultura de carbono

De acordo com o relatório da BCG, trata-se de uma abordagem holística, que considera os impactos sociais, econômicos e ambientais. Isso inclui desde o aumento da produtividade até a melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais e a resiliência dos ecossistemas agrícolas frente às mudanças climáticas.

“O perfil da mão de obra tornou-se mais técnico, com habilidades em manejo integrado, agricultura de precisão e gestão ambiental”, acrescenta Marize.

É uma abordagem tudo ou nada, difícil de aplicar

Outro equívoco. A agricultura regenerativa não exige transformação radical imediata. É uma estratégia gradual, que pode começar com ações simples, como o plantio direto bem-feito, a rotação de culturas e o uso de bioinsumos. Cada propriedade pode adaptar as práticas conforme sua realidade, tornando a transição viável e escalável.

“O pior dos mundos é fazer da forma errada, gastar o dinheiro e não ter o benefício. Então, é preciso investir com consistência e monitorar os aspectos financeiros. Se, por um lado, o payback é positivo, é preciso ter fôlego para chegar lá. O retorno começa em um ano e o investimento se paga totalmente em quatro ou cinco anos”, diz Fernando.

Reduz a lucratividade dos produtores

Pelo contrário. O relatório da BCG aponta que melhorar a saúde do solo e reduzir o uso de insumos químicos leva a uma queda nos custos de produção e aumenta a rentabilidade no médio e longo prazo. Práticas regenerativas, como a adubação verde, fortalecem as culturas frente à instabilidade do clima e valorizam as propriedades.

“Deixamos cerca de 30% da área sem milho safrinha para fazer as correções com a adubação verde. Isso é fundamental para manter um solo bem estruturado e proteger a soja do estresse hídrico, como o que enfrentamos este ano”, destaca Jorge Giacomelli, proprietário da Fazenda Aymoré, em Jaciara (MT).

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