Por André Garcia
Duas pessoas foram presas durante a Operação Orcs, deflagrada na semana passada pela Polícia Civil de Mato Grosso para desarticular uma associação criminosa envolvida na exploração ilegal de madeira na Estação Ecológica Rio Ronuro. A unidade de conservação, situada entre os biomas Cerrado e Amazônia, em Feliz Natal (536 km de Cuiabá), é considerada uma das áreas prioritárias para a preservação da biodiversidade no Estado.
Os indícios apontam o envolvimento de proprietários de madeireiras, engenheiros florestais, transportadores, intermediários e agentes públicos que facilitavam o escoamento da madeira de origem ilegal, desviada principalmente da Estação Ecológica.
Entre os presos está um homem de 40 anos, apontado como responsável pela logística do corte e retirada da matéria-prima de dentro da unidade de conservação. A outra prisão foi em flagrante, após a apreensão de duas pistolas calibre 22 durante o cumprimento de mandado em um dos endereços investigados. A operação também resultou na apreensão de documentos, equipamentos eletrônicos e outros materiais que serão periciados.
A ação foi coordenada pela Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema) e contou com apoio das delegacias de Sinop e Sorriso, da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), do Ministério Público e do Poder Judiciário da Comarca de Feliz Natal. Ao todo, foram cumpridos um mandado de prisão e 12 de busca e apreensão em imóveis residenciais e comerciais nas cidades de Feliz Natal, Sorriso e Sinop.
Esquema envolvia leilões simulados e madeireiras embargadas
As investigações tiveram início a partir de uma requisição do Ministério Público de Feliz Natal, com foco em apurar a extração, transporte e comercialização ilegal de madeira na região.
A Sema embargou três madeireiras durante a operação. Segundo a Dema, a madeira extraída ilegalmente era, em alguns casos, apreendida por órgãos de fiscalização e posteriormente doada de forma legal a um grêmio desportivo, conforme prevê a legislação ambiental. No entanto, o grupo criminoso se utilizava de licitações fraudulentas em formato de leilão para que os produtos retornassem aos mesmos empresários que haviam promovido a exploração irregular.
Entre as irregularidades identificadas nas doações ao grêmio, estão a inexistência de documentos formais sobre as apreensões, a ausência de termos de depósito que indicariam os responsáveis pela guarda das madeiras, a falta de avaliação prévia das toras, a inexistência de autorização judicial para venda e a não regularização junto à Sema. A Secretaria reforçou que não teve qualquer participação no esquema investigado.
Além disso, as empresas sob investigação apresentavam intensa movimentação no sistema de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais, com a emissão de diversas guias florestais suspeitas de fraude. As transações apontam fluxo contínuo de madeira com origem ilegal, reforçando a suspeita de que o esquema envolvia um ciclo organizado de extração, lavagem e reinserção da madeira no mercado formal.
Agora, a Polícia Civil apura os crimes de extração ilegal de recursos naturais, associação criminosa, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública ambiental.
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