HomeEcologiaProdutividade

Clima deve agravar em 46% doenças nas lavouras, diz Embrapa

Clima deve agravar em 46% doenças nas lavouras, diz EmbrapaPulgões tripes e outras pragas cigarrinhas se multiplicarão. Foto: Antonio Neto/Embrapa

Mapa registra 52 defensivos, 20 deles de controle biológico
Defensivos e transporte devem encarecer safra de soja: veja alternativas
Custo de produção da soja mais do que dobra em MT, em três anos

Por André Garcia

Um estudo conduzido por pesquisadores da Embrapa indica que 46% das doenças agrícolas se tornarão mais severas até 2100. A tendência está relacionada às mudanças climáticas, que alteram a temperatura, a umidade e o regime de chuvas nas lavouras, o que aumenta os prejuízos econômicos e dificulta o manejo no campo.

Considerando que a temperatura pode aumentar mais de 4,5 °C em algumas regiões brasileiras, os pesquisadores analisaram centenas de combinações entre lavouras e agentes causadores de doenças em 32 culturas importantes para o País, como soja, milho, café, algodão, banana e hortaliças.

“O aquecimento global terá um papel importante no aumento da população de vetores que transmitem vírus e molicutes. Esses vetores terão ciclos de vida mais curtos, viverão mais tempo e serão mais ativos, o que levará ao crescimento de suas populações e da importância dessas doenças em todas as regiões do Brasil”, diz trecho do estudo.

Nesse cenário, os fungos aparecem como os patógenos mais recorrentes, responsáveis por quase 80% dos casos avaliados. As doenças bacterianas, virais e provocadas por nematoides também podem ganhar força, dependendo da cultura e das condições climáticas de cada região.

A elevação da temperatura influencia ainda a ação de insetos que transmitem vírus e molicutes, responsáveis por doenças em lavouras como tomate, milho, banana, alface, pimentão e citros. Esses vetores tendem a se multiplicar com mais rapidez e viver por mais tempo em um clima mais quente.

Proliferação de pragas

Insetos como pulgões, moscas-brancas, tripes e cigarrinhas devem se multiplicar em todas as regiões, principalmente entre março e setembro. Eles são responsáveis por disseminar agentes causadores de doenças como o mosaico comum da mandioca, o vírus do enrolamento das folhas da batata e a murcha viral do tomate.

Com ciclos reprodutivos mais rápidos e maior resistência a variações climáticas, os insetos transmissores se tornam um desafio adicional para o controle. Segundo o estudo, a ocorrência e a intensidade dessas doenças dependerão das condições locais de clima e do manejo adotado pelos produtores.

“A severidade de doenças como a antracnose deve aumentar no milho, sorgo, caju, manga, melão, cebola, mamão, frutíferas de caroço e morango durante o período chuvoso, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste”, aponta o documento.

Ferrugem asiática

No caso da ferrugem asiática da soja, o estudo aponta que a severidade da doença pode diminuir em alguns cenários futuros no Centro-Oeste. A previsão está relacionada a possíveis mudanças no regime de chuvas e na umidade relativa do ar. Mesmo assim, a doença continua exigindo atenção, já que o fungo pode se adaptar às novas condições.

Defensivos podem não ser suficientes

O uso intensivo de defensivos pode não ser suficiente para evitar surtos em regiões onde o clima favorecerá o aumento das populações. Por isso, os pesquisadores recomendam ações preventivas e maior integração entre monitoramento, manejo e controle biológico sempre que possível.

“A dinâmica dos fungicidas nas plantas — como penetração, translocação e degradação — pode sofrer alterações em razão das mudanças na temperatura e na precipitação, bem como por mudanças morfológicas e fisiológicas das plantas”, afirmam.

A análise reforça a necessidade de antecipar cenários e adotar estratégias de mitigação específicas para cada cultura. A mudança no clima altera não apenas a severidade das doenças, mas também sua distribuição geográfica e a resposta das plantas aos tratamentos.

 

LEIA MAIS:

Mudanças climáticas ameaçam biodiversidade de forma irreversível

Fogo e mudanças climáticas podem destruir todo Pantanal neste século

Controle de pragas é essencial na primeira fase do plantio de soja

Milho sofre com seca e aumento de lagartas

Clima ajuda a elevar pedidos de recuperação judicial no agro

OMM aponta desastres climáticos sem precentes no Centro-Oeste

Cigarrinha do milho pode ser combatida com bioinsumos

Mais uma vez clima castiga produtores na colheita de soja de MT

Novo bioinseticida contra lagarta-do-cartucho tem 85% de eficácia

Agro é o setor que mais perde dinheiro por causa do clima

Clima exige controle extra para evitar prejuízos causados pela cigarrinha do milho

Agravada por crise climática, cigarrinha do milho pode ser controlada por fungo