Por André Garcia
O avanço das mudanças climáticas deve reduzir a eficácia dos produtos usados no controle de doenças agrícolas. Isso porque o aumento da temperatura e a alteração nos regimes de chuva mudam a forma como eles se relacionam com a planta e com o patógeno, colocando em xeque a eficiência de defensivos químicos e biológicos.
É o que alerta o estudo “Uma Revisão Abrangente sobre as Mudanças Climáticas e as Doenças de Plantas no Brasil”, assinado pelos pesquisadores da Embrapa Franscislene Angelotti, Emília Hamada e Wagner Bettiol.
De acordo com eles, o calor pode interferir na forma como as plantas reagem às doenças, reduzindo a eficácia de cultivares consideradas resistentes.
“Mudanças na morfologia e fisiologia podem alterar os mecanismos de resistência das cultivares”, diz trecho do documento.
Produtos podem perder eficácia com o calor
Entre os defensivos mais afetados estão os fungicidas, que podem ter sua penetração, movimentação interna e degradação alteradas em razão das mudanças no clima. A eficácia dos produtos dependerá da temperatura, da quantidade de chuva e até das mudanças que o calor provoca na fisiologia das plantas.
“A dinâmica dos fungicidas nas plantas — como penetração, translocação e degradação — pode sofrer alterações em razão das mudanças na temperatura e na precipitação, bem como por mudanças morfológicas e fisiológicas das plantas”, destaca o relatório.
O mesmo vale para os agentes de controle biológico aplicados diretamente nas lavouras. Organismos como o Clonostachys rosea e o Coniothyrium minitans, usados no combate a fungos como Sclerotinia e Botrytis, têm eficiência limitada a faixas estreitas de temperatura. Por isso, podem perder o efeito em ambientes mais quentes.
Desafios para defensivos e biológicos
Além disso, é possível que certas espécies de agentes usados nesse tipo de controle não tenham bom desempenho em condições caracterizadas pelo aumento previsto da temperatura. Neste cenário, a recomendação é escolher agentes biológicos de acordo com o clima da região e com os cenários de aquecimento previstos.
Por outro lado, microrganismos como os do grupo Bacillus spp. se mantêm eficientes mesmo com a elevação da temperatura. A ampla faixa de atuação desses organismos os torna aliados estratégicos para o futuro, principalmente onde as ondas de calor forem mais frequentes e intensas.
Produtor deve se antecipar
Os pesquisadores analisaram 304 patossistemas, abrangendo 32 culturas de importância econômica para o país, como soja, milho e sorgo. Ainda assim, os autores lembram que boa parte dos testes é feita em ambientes controlados e que, na prática, as fazendas lidam com vários fatores ao mesmo tempo.
Diante disso, o produtor deve se antecipar e investir em um controle adaptado ao tipo de cultivo, ao patógeno envolvido e às condições climáticas de sua região. É preciso escolher produtos e microrganismos com maior amplitude de atuação, priorizar práticas de manejo integrado e de regeneração do solo.
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