HomeProdutividade

Entenda como clima pode reduzir ação de defensivos agrícolas

Entenda como clima pode reduzir ação de defensivos agrícolasFungicidas serão os mais afetados. Foto: Reprodução/CNA

Solo será chave para enfrentar pragas nos próximos anos
Conheça 10 estratégias para lidar com alta de doenças nas lavouras
Mapa registra 52 defensivos, 20 deles de controle biológico

Por André Garcia

O avanço das mudanças climáticas deve reduzir a eficácia dos produtos usados no controle de doenças agrícolas. Isso porque o aumento da temperatura e a alteração nos regimes de chuva mudam a forma como eles se relacionam com a planta e com o patógeno, colocando em xeque a eficiência de defensivos químicos e biológicos.

É o que alerta o estudo “Uma Revisão Abrangente sobre as Mudanças Climáticas e as Doenças de Plantas no Brasil”, assinado pelos pesquisadores da Embrapa Franscislene Angelotti, Emília Hamada e Wagner Bettiol.

De acordo com eles, o calor pode interferir na forma como as plantas reagem às doenças, reduzindo a eficácia de cultivares consideradas resistentes.

“Mudanças na morfologia e fisiologia podem alterar os mecanismos de resistência das cultivares”, diz trecho do documento.

Produtos podem perder eficácia com o calor

Entre os defensivos mais afetados estão os fungicidas, que podem ter sua penetração, movimentação interna e degradação alteradas em razão das mudanças no clima. A eficácia dos produtos dependerá da temperatura, da quantidade de chuva e até das mudanças que o calor provoca na fisiologia das plantas.

“A dinâmica dos fungicidas nas plantas — como penetração, translocação e degradação — pode sofrer alterações em razão das mudanças na temperatura e na precipitação, bem como por mudanças morfológicas e fisiológicas das plantas”, destaca o relatório.

O mesmo vale para os agentes de controle biológico aplicados diretamente nas lavouras. Organismos como o Clonostachys rosea e o Coniothyrium minitans, usados no combate a fungos como Sclerotinia e Botrytis, têm eficiência limitada a faixas estreitas de temperatura. Por isso, podem perder o efeito em ambientes mais quentes.

Desafios para defensivos e biológicos

Além disso, é possível que certas espécies de agentes usados nesse tipo de controle não tenham bom desempenho em condições caracterizadas pelo aumento previsto da temperatura. Neste cenário, a recomendação é escolher agentes biológicos de acordo com o clima da região e com os cenários de aquecimento previstos.

Por outro lado, microrganismos como os do grupo Bacillus spp. se mantêm eficientes mesmo com a elevação da temperatura. A ampla faixa de atuação desses organismos os torna aliados estratégicos para o futuro, principalmente onde as ondas de calor forem mais frequentes e intensas.

Produtor deve se antecipar

Os pesquisadores analisaram 304 patossistemas, abrangendo 32 culturas de importância econômica para o país, como soja, milho e sorgo. Ainda assim, os autores lembram que boa parte dos testes é feita em ambientes controlados e que, na prática, as fazendas lidam com vários fatores ao mesmo tempo.

Diante disso, o produtor deve se antecipar e investir em um controle adaptado ao tipo de cultivo, ao patógeno envolvido e às condições climáticas de sua região. É preciso escolher produtos e microrganismos com maior amplitude de atuação, priorizar práticas de manejo integrado e de regeneração do solo.

 

LEIA MAIS:

Clima deve agravar em 46% doenças nas lavouras, diz Embrapa

Confira cinco mitos sobre agricultura regenerativa

Pecuarista aumenta produção em 10x com estratégia regenerativa

Agricultura regenerativa pode triplicar lucro em fazendas de MT

Cerrado pode dobrar produção com agricultura regenerativa

Controle de pragas é essencial na primeira fase do plantio de soja

Milho sofre com seca e aumento de lagartas

Cigarrinha do milho pode ser combatida com bioinsumos

Mais uma vez clima castiga produtores na colheita de soja de MT

Novo bioinseticida contra lagarta-do-cartucho tem 85% de eficácia

Agro é o setor que mais perde dinheiro por causa do clima

Clima exige controle extra para evitar prejuízos causados pela cigarrinha do milho

Agravada por crise climática, cigarrinha do milho pode ser controlada por fungo