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Mudanças bruscas de temperatura colocam lavouras em risco

Mudanças bruscas de temperatura colocam lavouras em riscoNo Brasil, clima instável põe agricultura em risco. Foto: Secom-MT

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As variações repentinas entre calor e frio estão se tornando cada vez mais frequentes e intensas em várias partes do mundo — e isso pode trazer grandes prejuízos para a agricultura, em que o clima é fundamental para o sucesso das lavouras.

Um estudo publicado recentemente na revista Nature Communications aponta que, desde 1961, esse tipo de oscilação aumentou em mais de 60% das regiões analisadas globalmente, com destaque para a América do Sul.

A pesquisa analisou dados de temperatura entre 1961 e 2023, observando mudanças bruscas em um intervalo de até cinco dias. O resultado mostra que esse fenômeno tem se tornado mais comum justamente onde ele mais prejudica: nas áreas agrícolas. O problema vai além das ondas de calor ou de frio isoladas — o que preocupa os cientistas são as transições cada vez mais rápidas e imprevisíveis entre esses extremos.

Essas oscilações desregulam os ciclos naturais das plantas, dificultando o planejamento de produtores e aumentando o risco de perdas.

“É como lutar contra a própria lógica de funcionamento das plantas, porque elas não podem se mover para escapar do estresse”, explica a pesquisadora Corey Lesk (Dartmouth College), que estuda os efeitos das mudanças climáticas sobre ecossistemas.

Instabilidade climática e os danos na agricultura

No Brasil, onde a agricultura depende fortemente das condições climáticas naturais, esse tipo de instabilidade pode ser desastroso. As plantas usam o calor como sinal para brotar, florescer e frutificar. Mas se uma onda de calor for seguida por uma frente fria intensa, os brotos recém-nascidos podem ser destruídos. O mesmo acontece quando o frio dá lugar ao calor muito rápido: plantações dormentes podem ser encharcadas e depois congeladas novamente, o que compromete o crescimento.

Exemplos como o da Europa em abril de 2021 ilustram os riscos: após um período de calor, uma geada atingiu cultivos em plena fase de brotação, causando perdas em larga escala. Algo parecido pode ocorrer com o trigo de inverno, presente especialmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Ele é semeado no outono e cresce sob a proteção do frio. Uma oscilação na temperatura esperada neste período pode matar a planta antes mesmo da primavera.

Além da agricultura, há impactos na natureza e na infraestrutura. Perdas de vegetação afetam os animais e o desequilíbrio climático pode até sobrecarregar sistemas de energia, como ocorreu em 2020 nas Montanhas Rochosas, nos EUA, quando a temperatura caiu 28 °C em um único dia após uma onda de calor.

Os pesquisadores alertam que esse padrão tende a se intensificar com o avanço do aquecimento global. Eles defendem investimentos urgentes em previsão meteorológica, adaptação da agricultura e sistemas de proteção à população mais vulnerável.

Portanto, a pesquisa acende um alerta importante para países tropicais como o Brasil: se o clima continuar tão instável, produzir alimentos será cada vez mais difícil — e caro.