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Dia da Pecuária é celebrado com bônus e ônus em Mato Grosso

Dia da Pecuária é celebrado com bônus e ônus em Mato Grosso

Volume de abates em dezembro foi o maior de todo o ano de 2021 em MT
Frigoríficos em MT usaram 69,28% da capacidade de abate em fevereiro, diz Imea
Abates de bovinos em outubro em MT foram 17,93% maiores ante setembro, diz Imea

Neste 14 de outubro se comemora o Dia Nacional da Pecuária no Brasil. E para o matogrossense, a data não passa despercebida, uma vez que o Estado possuiu o maior número de bovinos do Brasil, com cerca de 32 milhões de cabeças, segundo dados do IBGE e do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso.

A raça mais presente nos pastos de Mato Grosso é a Nelore. Como diz o diretor da Associação dos Criadores Nelore de Mato Grosso (ACNMT), Aldo Rezende Telles, não existe a melhor raça do mundo e, sim, a mais bem adaptada, trazendo o desafio de produzir carne bovina com eficiência em todas as regiões.

“Os registros mostram que ao longo da história, mais de 1 milhão de bovinos das raças europeias, os chamados taurinos, entraram no Brasil e apenas 6 mil zebuínos, mas o que vemos hoje é que mais de 80% do rebanho nacional tem sangue zebu, uma nítida comprovação que o gado indiano (Nelore) encontrou no nosso país seu oásis. E dentre as várias raças zebuínas, 90% é Nelore ou “anelorado””, afirma o pecuarista em artigo para a ACNMT.

Pesquisa inédita

A ACNMT iniciou no mês de setembro a maior prova de pesquisa e desempenho de animais feita por uma associação no Brasil. Ao todo, participam 600 bezerros, de 20 criadores associados. Os animais iniciarão o experimento com uma média de 7 arrobas de peso vivo e deverão ficar prontos para abaste, em menos de um ano, com 20 arrobas.

A prova consiste em três etapas, em que serão testados até sete protocolos nutricionais. A primeira delas tem gerado maior expectativa por ser pouco conhecida e que consiste no “sequestro de bezerros” (ou resgate) para avaliar dois protocolos nutricionais na fase de transição de pasto.

Os animais ficarão confinados até que os pastos da fazenda se recuperem e ofereçam matéria verde para finalizar a recria a pasto (início das chuvas), quando então se dará início à segunda etapa com duração de 6 meses para, posteriormente, entrar na terceira etapa, que consiste na engorda intensiva a pasto no período de 100 a 120 dias.

A coordenadora do Núcleo de Estudos em Pecuária Intensiva (NEPI) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Sinop, professora Kamila Andreatta, explica que serão avaliados os efeitos de diferentes taxas de ganhos em peso no “resgate” e “pós-resgate” na terminação dos animais Nelore.

“Nesse período de quase um ano, vamos aferir alguns itens, como desempenho nutricional, produtivo e econômico, além das características de carcaça e qualidade de carne dos animais. Queremos verificar o uso da técnica, além de comparar os resultados a partir dos tipos diferentes de suplementação utilizados no antes e pós resgate”.

Para o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, a proposta do experimento com os bezerros machos é semelhante ao que se fez recentemente com as fêmeas, pois serão avaliados desde a desmama, com até 220 kg, peso que muitos produtores já conseguem alcançar condições para abate em um prazo curto de até 16 a 20 meses de vida desses animais. “Queremos mostrar que é tecnicamente possível e, o mais importante, economicamente viável para o produtor”.

Dados da Acrimat apontam para um aumento de 2% para 20% no abate de animais com até 2 anos de idade em Mato Grosso. “Número esse que é proporcional à qualidade da carne (maciez), além atender exigências do mercado, pois países como China, por exemplo, só compram animais abatidos com até 30 meses”, acrescenta Manzi.

Ônus x bônus

Por ter o maior número de cabeças de gado, Mato Grosso também lida com o alto volume de emissão de gases de efeito (GEE) estufa na atmosfera.

Como é sabido, o setor agropecuário é o principal responsável pela emissão de GEE. Segundo um estudo da Embrapa Gado de Corte, 200 árvores por hectare seriam suficientes para neutralizar o metano emitido por 11 bovinos adultos por hectare ao ano.

Em 2018, a agropecuária encabeçou 79,4% das emissões de GEE em 467 municípios do Centro-Oeste brasileiro, especialmente em nosso Estado e em Goiás, em 2018.

Foram 383,3 milhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e) emitidos na atmosfera três anos atrás, o correspondente a 20% do total nacional, de acordo com um levantamento do Observatório do Clima. O cálculo levou em conta o CO2 e outros gases ligados ao aquecimento global, como metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).

O município de Colniza (MT) destacou-se como aquele que mais liberou esses gases nocivos na região, com 14,3 milhões de toneladas de CO2e em 2018. Cerca de 91% dessas emissões são provenientes de mudanças de uso da terra, especialmente do desmatamento. Colniza tem uma das maiores emissões brutas per capita do Brasil, algo em torno de 380 toneladas/habitante. É como se cada habitante da cidade tivesse mais de 500 carros rodando 20 quilômetros por dia, segundo Bárbara Zimbres, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Remoção de CO2

O levantamento do Observatório do Clima não é feito só de emissões. As análises também levam em conta ações de remoção de gases de efeito estufa colocadas em prática nos municípios.

“É possível remover CO2 da atmosfera a partir de alterações de cobertura e uso da terra”, afirma Zimbres, do Ipam. “Isso pode ser feito por meio do manejo de áreas protegidas, como terras indígenas, ou de florestas secundárias, formadas em áreas degradadas”, explica a pesquisadora.

Mesmo municípios com altas taxas de desmatamento, como Aripuanã e Peixoto de Azevedo, ambos em Mato Grosso, conseguem remover volumes consideráveis de carbono da atmosfera, reduzindo as chamadas emissões líquidas. Ao todo, o Centro-Oeste foi responsável pela remoção de 61,4 milhões de toneladas de CO2e da atmosfera em 2018, graças, principalmente, à preservação de áreas protegidas.