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COP26: Ministra diz que agropecuária é ‘parte da solução’ das mudanças climáticas e insegurança alimentar

COP26: Ministra diz que agropecuária é ‘parte da solução’ das mudanças climáticas e insegurança alimentar

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A ministra Tereza Cristina (Agricultura) deu ênfase nesta segunda-feira, 1/11, ao papel da agropecuária no combate às mudanças climáticas, em discurso gravado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, e transmitido durante a 26a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, que neste ano ocorre em Glasgow, na Escócia.

Segundo ela, o potencial transformador da agropecuária de baixa emissão de carbono é enorme.

“A agropecuária, realizada de maneira sustentável, é parte da solução para um duplo desafio: mudança do clima e segurança alimentar”, afirmou Tereza.

Leia abaixo a íntegra do discurso da ministra:

Senhoras e senhores,

A agricultura brasileira é movida a ciência.

Nos últimos cinquenta anos, desenvolvemos um modelo de agricultura tropical baseado em pesquisa e inovação que conjuga de forma singular os três pilares da sustentabilidade: o social, o econômico e o ambiental. A partir de investimentos na tropicalização de variedades de plantas e animais, no desenvolvimento de práticas produtivas adaptadas às condições naturais do nosso território e na qualificação de nossos produtores, deixamos de ser um país importador líquido de alimentos e atingimos a condição de terceiro maior exportador mundial de alimentos, fibras e bioenergia.

Vejam bem: se o Brasil tivesse mantido a mesma produtividade da década de 70, seriam necessários 71 milhões de hectares a mais para produzir a mesma quantidade de soja dos dias de hoje. Isso é o efeito poupa terra. Se considerássemos toda a produção de grãos, esses números seriam ainda mais eloquentes.

Mas esse não foi o único benefício dos pesados investimentos em pesquisa e inovação. Além de produzir mais eficientemente, passamos a produzir de forma mais sustentável. Sobre esse ponto, quero aqui recordar o pioneirismo do Brasil no desenvolvimento de uma agropecuária de baixa emissão de carbono, que inclui, mas não se limita, à disseminação de tecnologias como o Sistema Plantio Direto, essencial para o sequestro de carbono no solo, e de inovações como a Fixação Biológica de Nitrogênio.

A robustez da ciência brasileira fez com que, em 2010, fosse criado o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, chamado de Plano ABC. Promovemos a adesão a seis tecnologias descarbonizantes. Além das que já mencionei, destaco também os sistemas integrados de produção, como a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta. O objetivo era recuperar 35,5 milhões de hectares já antropizados e degradados com uma das seis tecnologias de forma individual ou combinada.

Os dados da Embrapa e de outras instituições de pesquisa demonstram que, os produtores rurais brasileiros adotaram os modelos produtivos descarbonizantes do Plano ABC em mais de 52 milhões de hectares, o que equivale a mais de duas vezes a área do território do Reino Unido.

Como resultado, mitigamos a emissão de mais de 170 milhões de toneladas de CO2 equivalente, superando também as metas de mitigação do próprio Plano.

Esse processo de aprimoramento não parou. Ele é continuo e necessário para que possamos produzir cada vez mais, de forma eficiente e sustentável.

A verdade é que temos muitas áreas de pastagem que podem ser utilizadas de maneira mais sustentável. Por isso, revisamos o Plano ABC e lançamos o ABC+, que inaugura uma nova década de incentivos à produção sustentável.

O ABC+ ampliou sua ambição estabelecendo metas mais elevadas e adotando novas bases conceituais.
Uma muito importante é a abordagem integrada da paisagem. A ênfase é no uso eficiente de áreas com aptidão para produção agropecuária, com forte estímulo à regularização ambiental, à valoração da paisagem, à recuperação e conservação da qualidade do solo, da água e da biodiversidade, e à valorização das especificidades locais e culturas regionais, expandindo o conjunto de iniciativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a promoção da produção agropecuária sustentável.

Para o território brasileiro, o estabelecimento desta abordagem multifuncional potencializa a efetiva conservação dos recursos naturais, sem prejuízos à produtividade e à renda do produtor.

Além da abordagem integrada da paisagem, o ABC+ fortalece a combinação de estratégias de mitigação e adaptação, uma vez que a agricultura é particularmente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas. Um exemplo são as tecnologias para sistemas irrigados sustentáveis, muito importantes para a mitigação de gases de efeito estufa, e essencial para a adaptação à mudança do clima.

Até 2030, iremos disseminar as tecnologias de baixa emissão de carbono a mais 72 milhões de hectares de terras agricultáveis, promovendo ganhos de produtividade em terras agrícolas já consolidadas, sem necessidade de converter novas áreas à atividade produtiva. Mitigaremos com isso a emissão de mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.

O potencial transformador da agropecuária de baixa emissão de carbono é enorme.
Queremos compartilhar essa experiência com países de realidades semelhantes. Apenas com a disseminação das melhores práticas a todos os produtores poderemos colher os impactos positivos que a produção de alimentos, fibras e bioenergia pode ter.

Antes de concluir essas minhas observações iniciais, gostaria de recordar a todos que, para além das tecnologias e inovações que mencionei, a realidade do território brasileiro decorre igualmente de um esforço institucional. Foi com a aprovação do Código Florestal, em 2012, que assentamos as bases para assegurar a preservação de nossas florestas.

Nessa lei estipulamos que as propriedades rurais devem destinar de 20% a 80% de sua área para a preservação da vegetação nativa, a depender do bioma. Com isso, o Brasil utiliza hoje apenas 30% de seu território para a agropecuária, enquanto mantém mais de 60% com vegetação nativa. Estima-se que cerca de 25% da área preservada se encontre em propriedades privadas, algo sem paralelo em outros países do mundo, pois se trata de terreno que o proprietário não recebe para preservar. É apenas uma obrigação legal.

Além disso, devemos lembrar que o produtor rural é também um produtor de águas. Quando o solo é bem manejado pela agropecuária, a água das chuvas infiltra e promove a recarga dos lençóis freáticos. Nosso Código Florestal já estabelece a obrigatoriedade da preservação das nascentes e cursos d´água.

Para além da obrigação legal, o Ministério fomenta a adoção de práticas de conservação de solo e água. Água e solo são ativos indissociáveis e essenciais para o desenvolvimento das atividades agropecuárias.

Implementando plenamente o Código Florestal brasileiro e as boas práticas incentivadas pelas políticas públicas consolidaremos a conservação ambiental aliada à produção agropecuária, reforçando a condição do Brasil de potência agroambiental.

A agropecuária, realizada de maneira sustentável, é parte da solução para um duplo desafio: mudança do clima e segurança alimentar.

Muito obrigada”

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