O Cebrap Sustentabilidade, em parceria com as Fundações Arymax e Tide Setubal e o Instituto Humanize, traz a público um relatório recém-elaborado que aborda a inclusão econômica de pessoas e regiões vulneráveis do Brasil rural e interiorano. O trabalho reúne evidências e reflexões que visam melhorar a qualidade das iniciativas voltadas a esse ambiente.
O documento sustenta que a pandemia de covid-19 agravou o quadro de desemprego e reduziu a capacidade de resposta do setor público e privado no Brasil.
“O desemprego entre os menos escolarizados vem aumentando e desde o meio da década passada a redução das vagas neste segmento já está na casa dos 17% (IBGE, 2021). Entre o começo da pandemia e o início do segundo trimestre de 2021 a pobreza extrema quase triplicou. A renda dos mais pobres também encolheu em 17%. E a expectativa é de mais um decréscimo adicional de 15% na renda deste segmento ao fim de 2021. Desde agosto do ano passado 32 milhões de pessoas deixaram a classe C; a maioria, 24,4 milhões foram rebaixados diretamente à classe E”, diz o estudo, citando a Fundação Getúlio Vargas.
Questões econômicas como o crescimento do PIB (de apenas 0,26% ao ano na última década), o pior resultado nos últimos 120 anos, os baixos níveis das taxas de poupança e de investimentos, carga tributária elevada e o déficit público disparado são fatores, segundo o estudo, que reduziram a margem fiscal para políticas sociais.
“Uma retomada do crescimento econômico pode aliviar um pouco esse quadro, mas sua reversão não será rápida nem fácil”, afirma.
Para promover a inclusão produtiva dos mais vulneráveis, o estudo situa como imprescindível a renovação das políticas públicas e das experiências produzidas por organizações da sociedade civil.
Para tornar isso possível, é necessário, segundo o trabalho, contar com uma visão sistêmica e multidimensional da inclusão produtiva, ampliar a conexão entre as agendas social, ambiental e produtiva, estimular a melhoria do ambiente econômico em que estão os vulneráveis, promover a coordenação de ações entre Estado, organizações sociais e setor privado, focar na valorização da diversidade biológica e cultural das regiões rurais brasileiras, entre outros.
Elaborado pela Cátedra Itinerante sobre Inclusão Produtiva Rural, o relatório aborda com mais profundidade esses pontos, apresenta dados e aponta caminhos possíveis para oferecer uma visão ampla sobre o tema a pesquisadores, lideranças de organizações da sociedade civil, do setor empresarial e do setor público.
Segundo o estudo, uma das chaves para a inclusão rural está na diversificação econômica e no crescente peso das chamadas “ocupações rurais não agrícolas”. A inclusão produtiva estritamente pela via agrícola não parece promissora, uma vez que as inovações tecnológicas e a mecanização do campo reduziram substancialmente a demanda por mão de obra.
Outra importante conclusão é a crítica à dicotomia que opõe o agronegócio à agricultura familiar. É preciso ir além disso, segundo os autores, e compreender a heterogeneidade observada no campo, onde se nota a convivência, ainda que conflituosa, entre os dois modelos de produção agrícola.
O estudo aborda ainda a necessidade de se pensar em novas formas de uso dos recursos naturais, para além da produção agrícola. Trata-se de algo que vem sendo valorizado com a narrativa da bioeconomia e de novas tecnologias como aplicativos e plataformas online.
O estudo completo pode ser lido aqui.
Fonte: Cebrap