Para ajudar agricultores, técnicos e governo no processo de regularização ambiental de propriedades rurais, pesquisadores da Universidade de Brasília lançaram, em 2021, o aplicativo Radis Cerrado. A tecnologia permite mapear e monitorar áreas em processo de restauração a um baixo custo, com maior rapidez e precisão. Bastante intuitiva, a ferramenta é gratuita e está disponível para sistema Android.
Por meio do GPS do próprio celular, o produtor consegue mapear sua propriedade e as áreas desmatadas. Mesmo offline, ele pode registrar informação sobre o imóvel, a produção e a vegetação encontrada no local. Ao se conectar à internet, os dados são enviados para a nuvem e acessados, quase que em tempo real, pelo órgão ambiental.
No aplicativo também é inserida a proposta de recomposição da área e, após o plantio, é possível acompanhar o crescimento da vegetação com base em indicadores como proporção de espécies exóticas e nativas, densidade de plantas e cobertura de solo e copa.
No Distrito Federal, a Instrução Normativa do Ibram nº 33/2020 exige a apresentação, pelos responsáveis legais, de relatórios anuais sobre a recomposição da área desmatada até que se atinja um valor de referência calculado para cada situação.
De acordo com o professor da UnB Mário Ávila, um dos coordenadores do projeto, cerca de 20 produtores estão utilizando o aplicativo e as melhorias têm ocorrido de maneira constante de acordo com a necessidade dos usuários.
Estamos implementando uma funcionalidade que usa uma base de dados, desenvolvida pela Embrapa e chamada Web Ambiente, com as espécies mais adaptadas a serem usadas no processo de restauração”, conta.
Entre as inovações, o pesquisador cita a possibilidade de, no futuro, resgatar todo o processo em imagens, pois fotos e vídeos ficam na memória, e o fato de o app estar integrado ao Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), o que poupa tempo dos produtores que já declararam como estão as suas áreas.
VALOR DO CERRADO EM PÉ
A ideia é que o aplicativo Radis Cerrado seja utilizado no restante do país para ajudar na restauração e preservação do bioma hoje ameaçado.
“Mais da metade do Cerrado já foi desmatado, por isso é preciso conciliar produção agrícola com conservação do meio ambiente”, alerta a pesquisadora no Laboratório de Ecologia Ecossistemas da UnB Íris Roitman, em entrevista recente.
Ela lembra que o equilíbrio hídrico necessário inclusive ao plantio de grandes lavouras depende da conservação de parte da vegetação do bioma. O agricultor, acredita Íris, vai acabar descobrindo que investir no Cerrado em pé é mais vantajoso que desmatar para ocupar grandes extensões de terra com pastagens e monocultura de soja.
A pesquisadora aponta ainda a importância de se criar cadeias produtivas sustentáveis capazes de gerar renda para as comunidades e esclarece que o produtor, por meio de assistência técnica adequada, pode obter informação sobre espécies nativas com maior potencial econômico, custo de sementes, estratégias e métodos de restauração.
RADIS
O nome do app veio de outro projeto realizado recentemente pela UnB em parceria com o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), em que foram coletados dados de 20 mil produtores rurais em cerca de 110 assentamentos na região do arco do desmatamento, no norte do Mato Grosso.
“O aplicativo Radis Cerrado surgiu a partir do projeto Radis na Amazônia. Lá, foi usado um aplicativo para coleta de informações que fazia a identificação das APPs [áreas de preservação permanente], reservas legais, nascentes, cursos d’água, de todos os atributos da propriedade, além de uma coleta de dados relativa ao que os assentados produziam e estavam comercializando, parte do que a gente chamou de diagnóstico socioeconômico”, conta o professor.
Além de fazer o cadastro ambiental rural dos imóveis daquela região e oferecer uma proposta simplificada de recomposição ambiental para áreas degradadas, o projeto Regularização Ambiental e Diagnóstico de Sistemas Agrários ajudou os produtores a identificarem e implantarem modelos sustentáveis de exploração da terra.
O aplicativo Radis Cerrado foi desenvolvido por integrantes do Centro de Gestão e Inovação da Agricultura Familiar (Cegafi) da UnB, no âmbito do Projeto Restaura Cerrado, com o apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Fundo para Ecossistemas Críticos (CEPF). O projeto também contou com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), entre outros parceiros.
Fonte: Erika Suzuki/Secom UnB
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