Em seu último levantamento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou que o volume da safra de algodão 2021/2022 no Brasil deve atingir um total de 2,7 milhões de toneladas. Mas algumas perspectivas apontam para uma safra ainda mais cheia. É o caso da Lefèvre Corretora, uma das associadas à Bolsa Brasileira de Mercadorias, que aposta em um volume de 3 milhões de toneladas.
Nos últimos anos, o Brasil registrou alguns recordes de safra para a pluma.
Em 2020, foram 3 mi/ton, e, depois, em 2021, houve uma queda de mais de 15% na produção em função de redução de área plantada e das condições meteorológicas. Para este ano, eu acredito em uma safra de até 3 mi/ton”, comentou João Paulo Lefèvre, sócio da Lefèvre Corretora e presidente do Conselho de Administração da Bolsa Brasileira de Mercadorias, com atuação de mais de 35 anos neste mercado.
Tal alta se justifica no bom momento vivido pelo mercado da fibra natural.
Olhando para o ponto de vista do produtor e considerando os atuais preços de mercado, o cenário é fantástico e de uma rentabilidade espetacular e isso inclusive contribuiu para que houvesse um aumento de área novamente”, destacou.
Segundo estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a área plantada com algodão no Brasil na safra de 2021/2022 deve alcançar 1,55 milhão de hectares, aumento de 13,5% em relação à safra anterior. Na Bahia, onde os trabalhos já foram concluídos, a expansão de área foi de 15%. Outras regiões ainda não encerraram os trabalhos de semeadura.
Em relação aos preços, o mercado brasileiro vem seguindo o comportamento das cotações internacionais, como de costume.
O que a gente está sentindo agora, e que não se via há 13 anos, é uma variação grande nos preços. No mercado brasileiro em si, a alta está muito mais relacionada com o mercado internacional e com os contratos na Bolsa de Nova Iorque do que com a própria situação interna”, esclareceu.
Olhando para frente, Lefèvre destaca que o mercado não está indicando novas altas nos preços. Hoje, por exemplo, o contrato com vencimento para março deste ano em Nova York aparece com valor superior ao vencimento de dezembro de 2022. Já o vencimento para dezembro de 2023 está com valor ainda mais baixo, mas ainda com patamares elevados frente a anos anteriores.
Este patamar de US$ 1,21 por libra peso (considerado elevado) é um a situação momentânea que está puxando as cotações. O mercado é soberano e antecipa tendências. Agora, ele já está precificando esse possível aumento de área desses próximos dois anos, por isso, os preços não sobem lá na frente e aparecem em patamares mais próximos do normal”, explicou.
Segundo ele, a precificação do vencimento para dezembro/22 em US$ 1,02, já é considerada excelente porque seria superior à média histórica para o período, mas Lefèvre deixa um alerta para os produtores: “É importante que os preços dos insumos não sejam precificados de acordo com as cotações atuais que estão mais altas. Se uma companhia de fertilizantes, por exemplo, precificar o produto com base no mercado spot para dezembro de 2023, aí a conta não fecha”, resumiu.
O algodão e a alta do petróleo
Um importante sinalizador no mercado do algodão são os preços internacionais do petróleo e que passaram a subir após o início das tensões entre a Rússia e a Ucrânia. Esta semana, o barril do petróleo tipo Brent se aproximou dos US$ 100.
Obviamente, o petróleo em alta faz nosso concorrente, que é o poliéster, também subir de preço mas, ao mesmo tempo, faz com que o custo de produção do algodão suba por causa dos insumos, então, eles andam mais ou menos juntos. Mas se você tiver o petróleo em alta, por exemplo, o algodão normalmente acompanha. Não é uma regra de ouro, mas existe uma certa correlação”, esclareceu Lefèvre.
Consumo interno
Segundo o dirigente há uma tendência natural de aumento no consumo interno do algodão frente a outras fibras em prol da sustentabilidade. Hoje, o Brasil é o maior exportador de algodão sustentável do mundo e com a maior produção global não irrigada.
O consumidor está prestando atenção nisso e, mesmo dentro da agricultura tradicional, a indústria busca pela rastreabilidade do produto que está comprando e sabe que, mesmo o algodão cultivado com uso de defensivos, está sendo produzido da maneira mais correta possível e com uma consciência ecológica. Então, acredito que isso dê sim um impulso no consumo da fibra natural”, finalizou.
Fonte: Bolsa Brasileira de Mercadorias
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