Segundo reportado pelo Valor Econômico, na quinta-feira, 24/02, os preços dos grãos encerraram a sessão com uma alta expressiva na Bolsa de Valores de Chicago. Um grande destaque foi para o trigo e a soja, que alcançaram na quarta-feira seus maiores patamares em quase dez anos. O ocorrido não é por acaso. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia já tem se desdobrado negativamente em diversos setores do mercado global, dentre eles, o agronegócio.
“Com a escalada das tensões ao longo do mês e a invasão ocorrida ontem, os contratos de segunda posição de entrega acumulam valorização de 21,99%, segundo cálculos do Valor Data”, aponta a publicação.
O contrato do trigo para entrega em maio (vencimento mais ativo) subiu 5,65% a US$ 9,3475 o bushel. Já o milho para maio avançou 1,32%, a US$ 6,9025 o bushel. Por fim, depois de a soja atingir, na quarta-feira, sua maior cotação desde setembro de 2012 em Chicago, o contrato para maio caiu ontem 1,02%, a US$ 16,540 o bushel, mas ainda acumula alta de 10,62% em fevereiro.
Apesar de o Brasil ser um grande exportador de milho e soja, podendo assim se beneficiar com o aumento de seus preços, o País importa uma grande quantidade de trigo, cujo preço tem subido consideravelmente.
O ItaúBBA, conforme apontado pela IstoÉ Dinheiro, estimou que a crise atual deve elevar os preços dos grãos e cereais, uma vez que ambas as nações respondem, juntas, por 18% das exportações de milho e por 28% das de trigo. “A Rússia é líder mundial na exportação de trigo, enquanto a Ucrânia é a quarta maior exportadora global do cereal”, cita a “IstoÉ”.
“As altas recentes dos futuros negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) são reflexo desse agravamento. Tememos que, se as sanções econômicas forem pesadas, isso pode interromper o fluxo de exportação russo. Há apreensão no mercado sobre os desdobramentos”, disse Alves ao “Broadcast Agro”, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, e reportado pela revista.
O G1 destacou a forte presença da Rússia no agro do Brasil e a liderança da Ucrânia na produção de milho (3º maior na produção mundial). O país russo ficou na 22ª posição entre os maiores importadores de produtos agropecuários brasileiros, com US$ 1,27 bilhão adquirido em 2021 (participação de 1,06%), segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Desse valor, US$ 343,2 milhões ou 768,2 mil toneladas foram apenas de soja, principal produto exportado aos russos. Já a Ucrânia, desde o início da safra 2021/22, conforme dados da Agência Safras apresentados pelo Canal Rural, exportou um total de 42,5 milhões de toneladas de grãos, onde 17,85 milhões foram de trigo, 5,57 milhões de cevada e 18,68 milhões de toneladas foram de milho.
Há ainda, como cita o Estadão, os entraves para escoamento em virtude das principais rotas logísticas do país estarem próximas ao bloco europeu. Em transmissão feita na quinta-feira, 24/02, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, informou que os militares do país suspenderam as operações dos portos após forças russas invadirem o país por terra e mar.
“Caso o país [ucraniano] diminua a produção, no primeiro momento, com a menor oferta de milho, os preços subiriam ainda mais. Mesmo favorecendo o agricultor que trabalha com o cultivo, seria mais uma causa para subir o preço da ração, deste modo encarecendo as carnes nos supermercados”, analisa Cesar de Castro, especialista de agronegócio do Itaú BBA, ao G1.
A Folha de São Paulo diz que o Mapa já projeta variados problemas que a nação pode enfrentar. “O ministério avalia que, como o mundo todo, sofreremos impactos. Mas ainda não está claro o tamanho deles”, diz a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
“É preciso tranquilidade e cautela. Temos muitas alternativas, e já estamos estudando todas elas. Temos plano A e plano B.” Para um diplomata ouvido pelo Estadão/Broadcast, os impactos também dependem da participação ou não da China e de alternativas que os russos buscarão para manter o escoamento de grãos.
O Brasil também é responsável por exportar alguns produtos agrícolas para ambos os países europeus. Segundo o Valor, a venda de produtos agropecuários para a Ucrânia somou US$ 148,2 milhões em 2021. Os principais foram: amendoim (US$ 29,2 milhões), carne bovina (US$ 15,4 milhões), açúcar, café solúvel, soja, tabaco, tripas bovinas, pimenta e carne de frango. Já para a Rússia, o comércio foi mais significativo. Dentre os produtos exportados, temos: soja (US$ 343,2 milhões em 2021), carne de frango (US$ 167,1 milhões), carne bovina (US$ 137,6 milhões), além de café, amendoim e açúcar.
Procuradas pelo Valor, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que representam os exportadores, pregaram cautela. Elas afirmam que os conflitos são muito recentes, não sendo possível fazer uma avaliação clara e precisa de eventuais problemas.
Produtos mais exportados do Brasil para a Rússia em 2021:
– Soja, mesmo triturada, exceto para semeadura: US$ 343.286.654,00
– Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/galinhas, congelados: US$ 167.164.904,00
– Café não torrado, não descafeinado, em grão: US$ 132.723.847,00
– Amendoins descascados, mesmo triturados: US$ 129.731.662,00
– Outros açúcares de cana: US$ 124.262.859,00
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