Por Vinicius Marques
Selo Angus Sustentabilidade prevê lucratividade de certificação de carne
A agropecuária brasileira está antenada com o que há de mais inovador em termos de produção sustentável. O Selo Angus Sustentabilidade é a prova disso. Lançado em junho de 2019, o programa de certificação fornece a criadores da raça bovina ferramentas de melhoria em suas fazendas. E prevê ainda lucratividade a médio e longo prazo similar a que ocorreu com o Programa Carne Angus Certificada, há quase 20 anos.
Em fase de inserção no Estado do Mato Grosso, o selo promove a valorização da carne e trabalha com seis pilares: Sustentabilidade, Responsabilidade Social, Rastreabilidade, Sanidade, Bem-estar Animal e Biossegurança.
A iniciativa tem como objetivo alinhar propriedades que utilizam a genética Angus a novas tendências de consumo. Além disso, de acordo com Ana Doralina, gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada, o selo entrega na mão do produtor métodos de organização e apontamentos de melhorias que, com baixo investimento, trazem bons resultados à produção.
A rastreabilidade, por exemplo, facilita a vida do produtor”, afirma Ana Doralina. “Auxilia, entre outras coisas, no controle de medicamentos e registro de animais adoecidos. A partir da certificação, você também recebe orientações de estruturas para o bem-estar: como áreas de sombra, qualidade das mangueiras, água. São coisas que melhoram a produção e refletem em maior rentabilidade do negócio.”
O programa começou em 2003, certificando bovinos da raça Angus a partir de critérios como: 50% de sangue angus no mínimo, carcaças bem acabadas e idade padrão para o abate. A certificação base avalia também, desde seu início, fatores relacionados à estrutura da indústria: boas práticas, higiene, bem-estar animal e etc.
O mercado, aos poucos, passou a demandar mais carne certificada até chegar o momento em que a indústria passou a pagar por esses produtos — muitos frigoríficos que comercializavam a carne Angus passaram a ter uma tabela de bonificação para produtores.
Para se ter uma ideia, um ano após o início do programa, em 2004, o volume total de carne Angus certificada foi de 221,395 toneladas, com 56.130 animais autenticados. Já em 2021, o número de bovinos cresceu cerca de 589% — 386.743 cabeças. O volume de carne certificada subiu para 27.054,466 toneladas no último ano. Para a gerente nacional, o selo de sustentabilidade caminha para essa mesma lucratividade a médio e longo prazo que a primeira certificação obteve.
“A aposta que a gente faz no Selo Angus Sustentabilidade é exatamente essa”, diz Doralina. A gerente estima que, já nos próximos anos, o entendimento do mercado externo e interno sobre sustentabilidade aumentará, engajando o setor. “Assim, esse engajamento traz uma necessidade de mais produtos e, com isso, a valorização da carne certificada.”
A demanda pelo selo sustentável veio inicialmente do mercado externo, exigindo principalmente dados de rastreabilidade e transparência. Logo a busca de consumidores e indústrias brasileiras por produtores conscientes passou a aumentar, possibilitando assim a expansão, ainda inicial, do certificado. “A gente sabe que quem manda na cadeia é quem está lá na ponta, o consumidor. É ele quem diz como e em qual formato ele quer o produto”, declara Ana Doralina.
Como esse produto foi obtido? De onde ele veio? De que propriedade? Qual era o sistema produtivo? O Selo Sustentabilidade vem para satisfazer esse desejo de informação por parte de alguns consumidores”, declara a gerente nacional.
Como certificar sua fazenda com o Selo Angus Sustentabilidade
Primeiramente, o pecuarista que deseja obter o selo sustentável deve, antes, já fornecer seus produtos para frigoríficos que possuam o selo base do Programa Carne Angus Certificada. Em seguida, o produtor deve entrar em contato com a associação, para agendar uma visita por parte dos técnicos do selo. A partir desse primeiro contato, o programa irá avaliar as exigências que a fazenda já cumpre e alguns pontos de melhoria, entregando na mão do proprietário o resultado da análise. A Associação Brasileira de Angus ficará responsável por selecionar e credenciar as propriedades aptas, assegurando as regras básicas de enquadramento.
Há o pensamento de que a sustentabilidade é algo muito caro, mas não é assim. Nós precisamos desmistificar isso, explicando para o produtor que ele não vai ter que fazer tanto investimento, porque já faz o básico da coisa. Ele simplesmente precisa organizar a propriedade e usar o selo como uma ferramenta de melhoria”, conclui Ana Doralina.
As principais exigências do Selo Angus Sustentabilidade são:
Questões ambientais
– Animais 100% rastreados;
– Preservação de vegetação nas nascentes e em área de reserva natural;
– Descarte adequado de embalagem vazias de defensivos agrícolas e de medicamentos;
– Não fazer uso de queimadas;
– Plano de recuperação de áreas degradadas;
Questões sociais
– Não usar mão de obra infantil ou escrava;
– Funcionários devidamente registrados;
– Fornece Equipamento de Proteção Individual (EPI);
– Filhos de funcionários devem estar matriculados na escola;
Questões de manejo sanitário e bem estar animal
– Uso correto e controlado de antibióticos dentro dos prazos definidos por lei;
– Registro de aplicação de medicamentos por animal;
– Medidas anti-estresse animal;
– Respeito ao limite de área mínima por animal conforme o sistema produtivo.
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