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Programa REM muda realidade de agricultores familiares no norte de Mato Grosso

Programa REM muda realidade de agricultores familiares no norte de Mato GrossoZé da Lasca e Antônia agora trabalham em terra própria, graças a subsídios. Foto: IOV

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Antonia e seu Zé da Lasca não tinham terra própria. Trabalhavam ‘pra fora’. Seu Zé chegava a ficar 20 dias longe de casa, cortando madeira para construir cercas e casas nas fazendas da região de Carlinda, no Portal da Amazônia, ao norte de Mato Grosso. Daí, inclusive, advém o seu apelido: Zé da Lasca, que são as lascas das madeiras que cortava durante o ofício. Já Antonia era professora na rede de ensino infantil da cidade.

A vida dos dois não era fácil e a grana muito curta. Sempre sentiram a necessidade da terra própria: de viver e tirar o sustento dela. Sonho que começou a virar realidade quando conseguiram ser assentados pela reforma agrária e serem inseridos nos projetos da organização socioambiental Instituto Ouro Verde (IOV). A partir disso, tanto Antonia como Zé da Lasca deixaram de trabalhar ‘pra fora’ e começaram a trabalhar pra dentro, na terra deles, a partir dos subsídios e linhas de créditos viabilizadas pelo IOV.

A mudança foi drástica. Nunca mais faltou alimento e a geração de renda passou a ser constante.

Nossa! Não consigo nem achar palavras direito pra dizer o quanto a nossa vida mudou. Foi algo extraordinário”, sintetiza a simpática Antonia Soares de Brito Oliveira, agricultora familiar de 43 anos, casada com José Severino de Oliveira, o ‘Zé da Lasca’, e mãe de uma filha de 16 anos.

Projeto referência

Antonia e Zé da Lasca fazem parte de um projeto bem mais amplo de médio a longo prazo, desenvolvido pelo IOV há 18 anos com agricultores familiares nos municípios que englobam o Portal da Amazônia. Atualmente, a organização viabilizou 33 projetos de créditos, no valor total de R$ 264 mil, para desenvolver a produção de hortas, verduras e pomares de mais de 200 famílias. Além disso, cadastrou as famílias no Sistema de Comercialização Solidária (Siscos), onde os produtores conseguem alcançar os consumidores; apoia o extrativismo de 60 coletores de sementes e fomenta a produção de uma agroindústria de beneficiamento de Pequi, que é administrada por 8 mulheres dentro de uma associação com 25 agricultores.

Mais crédito

Todas essas ações fazem o projeto do IOV ser um dos mais eficientes já apoiados pelo Programa REM Mato Grosso (do inglês, REDD para Pioneiros). Até o momento, a iniciativa já alcançou o patamar de 70% de suas ações concluídas, segundo informou em janeiro deste 2022. Na prática, isso significa mais floresta em pé e geração de renda para quem realmente precisa.

O REM MT tem sido fundamental na continuidade de nossas ações no Portal da Amazônia. Antes tínhamos um fundo de crédito no Banco Raiz no valor de R$ 50 mil. Agora, com o REM MT nos apoiando, além de outros parceiros, esse valor saltou  para R$ 635 mil. O que isso significa? É mais dinheiro aos agricultores, para que eles ampliem suas áreas de produção na perspectiva agroecológica: conciliando a geração de renda com a preservação e recuperação de áreas degradadas”, destaca Andrezza Alves Spexoto, coordenadora do projeto do IOV inserido no REM MT.

Novas áreas

Inclusive, o casal de agricultores citados no início da matéria atualmente conseguiu uma linha de crédito para fazer novos investimentos na propriedade, a partir dos recursos do REM MT. Com o dinheiro no bolso, Antônia e seu Zé da Lasca expandiram o pomar e os quintais florestais para uma nova área de cinco mil metros quadrados (meio hectare) onde haverá possibilidade, por exemplo, de se plantar mais de 400 pés de diferentes espécies frutíferas e madeireiras.

Pretendemos recuperar mais áreas degradadas e ampliar nossos pomares e quintais florestais. Queremos plantar mais laranja, pocan, limão, cupuaçu…além de fazer piquetes no pasto com plantio de árvores para que as nossas vaquinhas leiteiras descansem na sombra. É muito mais qualidade de vida para o animal”, destaca Antônia.

Coletividade

Para tocar o projeto, Andrezza, a coordenadora do IOV, conta com o suporte do professor da Universidade Estadual (Unemat) Alexandre de Azevedo Olival, que faz parte do Núcleo de Pesquisa e Extensão da Agricultura Familiar e Agroecológica (NAF) da Unemat do campus Alta Floresta. Sobre o projeto ter atingido 70% de conclusão dentro de apenas 1 ano e meio, os dois comemoram o resultado, mas ponderam que é preciso ter “os pés no chão” e que isso só aumenta a responsabilidade do IOV junto aos agricultores familiares.

Destacam também que tal patamar de eficiência não se consegue sozinho, pois envolve muito esforço, coletividade e, principalmente, o envolvimento das famílias.

“O projeto não caiu de paraquedas. Existe um contexto aí. Não começamos do nada e nem sozinhos. Existe uma rede de colaboradores, outras instituições parceiras, como a Unemat e a Rede de Sementes, que faz esse projeto ser tão eficiente”, conta Andrezza.

Fundo camponês

Ao todo, o Programa REM MT investe R$ 1,5 milhão na iniciativa do IOV, denominada de “Fundo da Agricultura Camponesa: articulando crédito e comercialização para o fortalecimento da agricultura familiar no Portal da Amazônia”. Esse projeto é um dos 22 inseridos no edital da Chamada 03/20 de projetos do Subprograma Agricultura Familiar de Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCT) do REM MT.

Indicadores

Ao todo, o projeto conta com mais de 1.000 indicadores que norteiam a execução do trabalho do IOV. Dentre eles, estão o beneficiamento das ações implementadas para mais de 200 famílias da região, bem como a implantação de 800 hectares sob manejo de baixo carbono, envolvendo cultivos perenes, fruticultura, agrofloresta e pecuária leiteira.

Fonte: REM-MT

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