Divulgada na segunda-feira, 4/04, a terceira de quatro partes do Sexto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que sem reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores, limitar o aquecimento global a 1,5°C está fora de alcance.
Como você tem lido aqui neste espaço, o aumento da temperatura traz sérios reflexos ao agronegócio brasileiro, como alteração do calendário das safras, aumento de gastos com insumos mais apropriados aos extremos climáticos, alteração do ciclo das florestas com menos evapotranspiração e consequente menos chuvas, aumento da conta de luz pelo acionamento mais frequente de usinas termelétricas, redução do reservatório de hidrelétricas e por aí vai.
De acordo com o presidente do IPCC, Hoesung Lee, as decisões que tomarmos agora podem levar a um futuro habitável do planeta, afinal temos as ferramentas e o know-how necessários para limitar o aquecimento.
“Estou encorajado pela ação climática que está sendo tomada em muitos países. Existem políticas, regulamentos e instrumentos de mercado que estão se mostrando eficazes. Se forem ampliados e aplicados de forma mais ampla e equitativa, podem apoiar reduções profundas de emissões e estimular a inovação”, disse.
Limitar o aquecimento global exigirá grandes transições na área de energia, e todos os setores têm que fazer a sua parte, principalmente a indústria, as cidades e os centros urbanos.
Na agricultura, a chave está no melhor uso da terra, o que pode proporcionar reduções de emissões em larga escala e também remover e armazenar dióxido de carbono em escala.
No entanto, diz o estudo, a terra não pode compensar as reduções de emissões atrasadas em outros setores. As opções de resposta podem beneficiar a biodiversidade, nos ajudar a nos adaptar às mudanças climáticas e garantir meios de subsistência, alimentos e água e suprimentos de madeira.
Segunda safra ameaçada?
A ação climática acelerada na redução e adaptação aos impactos das mudanças climáticas é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Algumas opções de resposta podem absorver e armazenar carbono e, ao mesmo tempo, ajudar as comunidades a limitar os impactos associados às mudanças climáticas. Por exemplo, nas cidades, redes de parques e espaços abertos, pântanos e agricultura urbana podem reduzir o risco de inundações e os efeitos das ilhas de calor.
Como alerta Luiz Gustavo O. Denardin, engenheiro agrônomo, especialista em ciência do solo e pesquisador da Universidade Federal de Rondonópolis, em artigo no Gigante 163, as mudanças climáticas podem reduzir severamente a rentabilidade da segunda safra de milho e algodão no Mato Grosso.
“Em resumo, os estudos demonstram que as mudanças climáticas podem reduzir severamente a rentabilidade da segunda safra de milho e algodão em Mato Grosso, principalmente devido à estação chuvosa mais curta”, escreve o engenheiro agrônomo.
Denardin cita, no texto, as principais estratégias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na produção agrícola, estão: i) a instalação de estruturas de irrigação; ii) o uso de variedades mais resistentes à seca; ou iii) diferentes arranjos produtivos.
Para ontem?
“É agora ou nunca, se quisermos limitar o aquecimento global a 1,5°C (2,7°F)”, disse Jim Skea, copresidente do IPCC. “Sem reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores, será impossível.”
Nos cenários avaliados, limitar o aquecimento a cerca de 1,5°C (2,7°F) exige que as emissões globais de gases de efeito estufa atinjam o pico antes de 2025, o mais tardar, e sejam reduzidas em 43% até 2030; ao mesmo tempo, o metano também precisaria ser reduzido em cerca de um terço. Ainda assim, segundo o estudo, é quase inevitável que se exceda temporariamente esse limite de temperatura, mas com a possibilidade de voltar a ficar abaixo dele até o final do século.
A temperatura global se estabilizará quando as emissões de dióxido de carbono atingirem zero líquido. Para 1,5°C (2,7°F), isso significa atingir emissões líquidas zero de dióxido de carbono globalmente no início da década de 2050; para 2°C (3,6°F), é no início da década de 2070.
Fonte: IPCC
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