A conexão entre grandes marcas de carne suína da Espanha – leia-se jamón – com a produção de soja que desmata as regiões da Amazônia e do Cerrado brasileiros virou assunto na imprensa europeia nos últimos dias.
A conclusão é fruto do relatório ‘Engordado com o desmatamento’, da ONG espanhola Carro de Combate, que seguiu durante seis meses o rastro das principais empresas de carnes e rações da Espanha com os grandes distribuidores de matérias-primas, Cargill e Bunge, e suas importações de soja do Brasil.
A legislação europeia proposta, prevista para este ano, vai proibir a entrada na Europa de certas matérias-primas que podem estar ligadas ao desmatamento. No entanto, não impedirá a importação de soja ligada à destruição do Cerrado porque a legislação se limita às florestas tropicais.
Ao mesmo tempo, a pressão sobre o Cerrado aumentou nos últimos anos e cresceu ainda mais depois que a guerra na Ucrânia afetou as cadeias de suprimentos da indústria de ração, levando a Espanha a buscar suprimentos alternativos nas Américas.
Alguns destaques do estudo:
- A Espanha é o segundo maior produtor de ração da Europa. Em 2020, dois terços das 3,5 milhões de toneladas de soja importadas para a Espanha vieram do Brasil, das quais 87% foram utilizadas na produção de ração.
- De acordo com o CESFAC, o empregador de ração na Espanha, 41% da soja importada do Brasil vem do Cerrado e 31% da Amazônia.
- O desmatamento no Cerrado cresce a cada ano e foi 8% maior em 2021 do que em 2020. Desde 1970, metade do cerrado desapareceu.
- As multinacionais Cargill e Bunge são as principais importadoras de soja na Espanha, com 59% das importações do Brasil em 2018. Uma investigação recente revelou que Cargill e Bunge implementaram apenas medidas parciais para reduzir o desmatamento e que mesmo as áreas prioritárias nas ações da empresa viram um aumento de 34% no desmatamento entre 2018 e 2020.
- Várias empresas de carnes ligadas à soja do Cerrado, como Campofrío, Vall Companys e Grupo Fuertes, se beneficiam de fundos europeus destinados, pelo menos em parte, a promover uma agricultura mais sustentável e a redução de emissões no setor agroalimentar.
- A indústria de ração espanhola sustenta que 71 % da soja importada na Espanha é de “baixo risco de desmatamento”, mesmo que sua própria investigação admita que metade dos produtores de ração não tem informações sobre a sustentabilidade da soja que utilizam.