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‘Ponto cego’ prejudica rastreamento de 40% das commodities

‘Ponto cego’ prejudica rastreamento de 40% das commoditiesExportação de boi vivo faz parte do estudo da Science Advances. Foto: Codesp

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Um estudo da Science Advances, publicado na sexta-feira, 29/4, revela que cerca de 40% das commodities agrícolas do mundo são cultivadas em áreas de florestas tropicais que não são adquiridas pelas grandes comerciantes diretamente dos produtores. O fato impede o rastreamento desses produtos para garantir que não venham de áreas desmatadas.

A grande presença de intermediários entre produtores e traders, de acordo com a investigação, cria um “ponto cego” que abre caminho para que mercadorias como soja e carne bovina, no caso do Brasil, produzidas em áreas desmatadas ilegalmente sejam comercializadas sem qualquer restrição.

O estudo cataloga as fontes dos comerciantes em quatro setores com altas taxas de desmatamento causado por commodities: soja sul-americana, cacau da Costa do Marfim, óleo de palma da Indonésia e exportações brasileiras de gado vivo.

Além da pecuária, o Brasil também aparece no estudo na parte relacionado à soja. Os pesquisadores destacam como a produção do grão tem sido um motor direto e indireto do desmatamento na Amazônia e no Cerrado brasileiros, e do Chaco paraguaio e argentino. Em 2018, sete tradings (Cargill, Bunge, Archer Daniels Midland, Louis Dreyfus, COFCO, Viterra e Amaggi) movimentaram 62,5% das exportações da região, diz a pesquisa.

O estudo aponta também que setor pecuário brasileiro é o principal impulsionador do desmatamento tropical. Segundo o texto, nesse setor, o gado pode passar por várias fazendas, desde o nascimento, passando pela engorda, até ser adquirido pelas traders,  impossibilitando o rastreamento direto. Em 2019, diz a revista, quatro empresas, Minerva Global Foods (doravante “Minerva”), Agroexport Trading, Bull Log Trading e Mercúrio Alimentos, movimentaram 70,2% das exportações (Texto Complementar).

Muitas empresas assumiram compromissos de desmatamento zero, embora o progresso na implementação de cadeias de suprimentos livres de desmatamento continue lento, segundo a Science Advances.