Por André Garcia
Ao identificar áreas de preservação permanente (APPs) degradadas em propriedades rurais, uma consultoria ambiental levanta os dados do local e inicia o processo de recuperação. Na maioria dos casos, aplica a técnica de vedação e o banco de sementes se encarrega da restauração. A depender da topografia e da vegetação, contudo, a aposta é a aplicação da serapilheira, uma camada de material orgânico em processo de decomposição rica em variedade, quantidade e qualidade de sementes.
É a partir destas e de outras técnicas de regeneração que o Programa Produção Sustentável de Bezerros alia reflorestamento e pecuária nas regiões do Araguaia e do Pantanal de Mato Grosso. Inédito no Brasil, o trabalho é voltado a pequenos e médios produtores que buscam intensificar suas produções com base na troca de informações e de diagnósticos técnico-produtivos e ambientais.
Consultor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), o economista e coordenador do programa, Amado de Oliveira Filho, explica que a melhora na qualidade da bezerrada nestas propriedades é visível, de modo que os caminhos apontam para práticas cada vez mais sustentáveis.
“Em algum momento chegaremos sim à prática da agricultura regenerativa. Afinal, estamos introduzindo nestas áreas a importância do zelo com o solo, água e tudo aquilo que vai ser utilizado na pastagem”, afirma Oliveira Filho à reportagem do Gigante 163.
Expectativa de avançar
Hoje o Produção Sustentável de Bezerros atende 305 fazendas, uma amostra ainda pequena diante das 107.600 propriedades pecuaristas no Estado. Além disso, a capacidade de investimento de pequenos e médios produtores, que já era reduzida, vem enfrentando dificuldades, segundo o economista. Mesmo diante disso, porém, a expectativa é avançar no processo de rastreabilidade para alcançar fatias mais exigentes do mercado, aumentando a lucratividade dos produtores entre 5 a 10%.
“Quando passarmos a identificar grandes lotes, com aumento efetivo de escala diante do mercado demandador, poderemos fazer com que os pecuaristas consigam obter a elevação de preços. Isto porque os animais estarão com brincos com a marca do programa, o que garantirá a sua origem e atenderá aos compradores mais exigentes com relação à sustentabilidade”.
Neste cenário é importante destacar também a busca por sistemas de integração envolvendo a pecuária de corte, já que, de acordo com o consultor, nos últimos 10 anos foram transferidos mais de 2,5 milhões de hectares de pasto para a produção de grãos.
“Em todas as fazendas que aderem ao Programa, os consultores orientam sobre redivisão das pastagens. Além disso, a Acrimat vem financiando pesquisas com a Embrapa Agrossilvipastoril e a Acrinorte para conhecer as vantagens, inclusive de renda, para os diversos sistemas de integração. Com tudo isto, vêm se reduzindo a quantidade total de pastagens sem que se reduza o total de bovinos no Estado”, pontua.
Análise de solo
Também faz parte do processo a análise dos solos, realizada em Cuiabá, por meio de uma parceria com a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), sem custos para os pecuaristas. Os resultados são enviados para a supervisão e seguem para a elaboração da prescrição para a recuperação das pastagens. Feito isto, todos os envolvidos recebem esta prescrição, que é lançada num sistema para acompanhamento.
A Acrimat informou que as 305 áreas atendidas na região Araguaia estão localizadas nos municípios de Paranatinga, Gaúcha do Norte e Ribeirão Cascalheira. Mais recentemente, a associação implementou uma nova versão do programa, o Projeto de Produção Sustentável de Bezerros no Pantanal. A meta é de atender mais 100 propriedades na região de Cáceres utilizando os mesmos métodos.