Uma viagem de estrada ou barco, que demoraria dias ou semanas, é transformada em um trajeto de algumas horas por ar. Para isso, são necessárias pistas para pousos e decolagens. E onde elas não existem, constroem-se, mesmo que seja de forma ilegal.
Isso é o que está acontecendo na Amazônia Legal, onde foi constatado a existência de 1.269 pistas clandestinas na região. Desse total, estima-se que pelo menos 362 tenham relação direta com o garimpo na floresta. Um detalhe importante: O número é maior do que as pistas regulares registradas na região na Agência Nacional de Aviação (ANAC): 1.260
Os dados fazem parte do levantamento inédito de pistas clandestinas na Amazônia feito pelo Intercept com o Pulitzer Center e a organização não-governamental estadunidense Earthrise Media, que reuniu os dados a partir de imagens de satélite da Amazônia Legal coletadas em 2021.
Analisados pelo Intercept em parceria com repórteres do jornal The New York Times, os dados mostram a relação direta da demanda da mineração com a dificuldade de acesso aos locais onde são feitos os garimpos.
Assim, os municípios paraenses de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso, que concentram a maior parte das permissões de lavra garimpeira, utilizadas para esquentamento de ouro, também reúnem a maior quantidade de pistas clandestinas relacionadas a desmatamento por mineração.
Como consequência os três também figuram no topo do ranking do desmatamento por mineração, de acordo com dados do MapBiomas relativos a 2020..
“Não são trabalhadores humildes que usam essas pistas, são grandes empresários”, observou a antropóloga Luísa Molina ao jornalista Hyury Potter no Intercept Brasil. “Se o governo quiser combater de verdade o negócio do ouro ilegal, tem que fiscalizar a cadeia logística por terra, rio e ar. Até porque essa logística não serve apenas para a economia do ouro ilegal, mas também para tráfico de drogas e armas”.