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Artigo: Agro, Amazônia e fake news: vamos entender os fatos?

Artigo: Agro, Amazônia e fake news: vamos entender os fatos?

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Agro abocanha maior parte do financiamento climático

O Gigante 163 convidou diversos especialistas, produtores e influenciadores para colaborar com conteúdos que interessam os nossos leitores – profissionais do agronegócio.

Hoje, o papo é sério – vamos falar das fake news que envolvem o agro e a Amazônia? Qual a fatia de verdade no envolvimento do agro com o desmatamento da Amazônia e quais são as verdades que precisam ser ditas? Iara Corrêa – Mentora de Liderança em Fazendas e Liderança Feminina no Agro, conta um pouco sobre os desafios de produtores em abordar esta pauta, e como isso precisa se transformar, para manter o nosso agro competitivo, produtivo e sustentável.

Encontre outras matérias de convidados aqui, e aproveite o artigo da Iara abaixo. 

Diante das mudanças no cenário político, apreensão junto aos produtores da agricultura e pecuária no Brasil, incertezas com notícias verdadeiras e falsas, o Gigante 163 me convidou para comentar a importância de evidenciarmos a presença de produtores na comunicação como solução do combate às notícias falsas, que geram impacto negativo para o setor que sustenta o nosso Brasil.

Para começar, quero recordar o famoso “pum da vaca”, que acusam de ser o maior dos vilões das mudanças climáticas. Começando por um erro comum, esses gases expelidos pelos bovinos, na sua maioria são emitidos pela boca do animal, então na verdade é um “arroto”.  Seguindo, já existe há mais de 40 anos soluções tais como aditivos na nutrição do animal que diminui emissão de gases pela melhor eficiência alimentar, bem como os arranjos produtivos silvipastoris, (SSP). Uma pastagem bem manejada com árvores no sistema podem neutralizar ou até sequestrar mais carbono do ambiente pecuário, o Selo Carne Carbono Neutro é um exemplo. Segundo o pesquisador da Embrapa, Valdemir Laura, um sistema com cerca de 200 árvores por hectare seria suficiente para neutralizar o metano emitido por 11 bovinos adultos por hectare ao ano, sendo que a taxa de lotação usual no Brasil é de um a 1,2 animais por hectare. Portanto, áreas de pastagem degradadas com baixa produtividade e sem árvores podem sim contribuir para o efeito estufa, mas fica claro que temos solução para o arroto da vaca!

Outro tema importante é a relação entre desmatamento e pecuária. De acordo com levantamento do MapBiomas, de 2010 a 2020 a área ocupada pelo garimpo na Amazônia e dentro de terras indígenas cresceu 495%; no caso das unidades de conservação, o crescimento foi de 301%. Ainda segundo o MapBiomas, em 2020, a Amazônia concentrava 72,5% da área total minerada no Brasil, o que corresponde a 149.393 hectares, sendo o bioma que mais agrupava as atividades de mineração no país, principalmente a ilegal: 101.100 hectares (67,6%).

A área com exploração madeireira irregular no Amazonas correspondeu, pelo menos, a 18 mil campos de futebol em apenas um ano. Baseado em imagens de satélite, os dados são de um levantamento publicado em outubro de 2021 pela Rede Simex, integrada por quatro organizações de pesquisa ambiental: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV.

O problema pode ser ainda mais grave, pois a falta de acesso aos dados públicos impediu a análise da legalidade nos 71 mil hectares com extração de madeira identificados no estado no período estudado, entre agosto de 2019 e julho de 2020.

Segundo o estudo, no período analisado, 71.091 hectares de floresta tiveram exploração madeireira no Amazonas, sendo pelo menos 18.992 hectares (26%) em locais não permitidos, como terras indígenas e unidades de conservação de proteção integral.

Apenas em territórios indígenas, a extração de madeira atingiu 9.576 hectares, o que corresponde a mais de 9 mil campos de futebol. E ainda, segundo informações, na região Transamazônica, a Tenharim Marmelos foi constatado que que em terras indígenas calcula-se exploração ilegal e uma área de 6.330 hectares, 66% de toda a extração de madeira identificada em territórios indígenas amazonenses.

O fato é que, a pecuária se instala em muitas áreas que são abertas ilegalmente, pela facilidade de jogar uma semente de pastagem e colocar bois, isso para validar que essas áreas são produtivas, ou seja, não se abre ilegalmente áreas na Amazônia para pecuária e sim a pecuária é uma das principais formas de ocupar essas terras. Áreas passíveis de serem abertas legalmente exigem um custo alto para liberação de licenças ambientais, normalmente a infraestrutura local e mão-de-obra são extremamente limitadas, logística difícil, ou seja, existe um controle para abertura de novas áreas legalmente, o que falta é a fiscalização e multas severas para quem faz o desmatamento ilegal.

Falando de desmatamento legal, esse é outro tema muito controverso, pois existem sim áreas no Brasil que podem ser abertas cumprindo nosso código florestal, que é um dos mais exigentes do mundo, porém há uma pressão por diminuição da abertura de novas áreas pela questão de mudanças do clima, emissão de carbono. Segundo dados do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, mostram que nossa maior fonte de emissão de carbono, 49%,  é a mudança de uso da terra, ou desmatamento. Nesse contexto vemos muitos importadores dos nossos produtos do agronegócio exigindo certificações que atestem que essas áreas não vieram de desmatamento recente. Além disso, temos cerca de 70 a 80 milhões de ha de áreas degradadas que poderiam ser convertidas em agricultura ou pecuária produtivas. Em resumo, falta incentivo público e privado para que produtores não vejam mais vantagens em abrir novas áreas do que preservá-las e aumentar a produção por hectare, para não precisar de mais áreas para crescer economicamente.

As notícias falsas, chamadas fake news, arrastam consigo uma mancha negativa nas atividades de produção, gerando apreensão e até mesmo impactando a sucessão desses negócios familiares, os filhos que grande parte vivem na comunidade urbana, escutam que “o agro desmata e destrói a natureza” ou “ o agro destrói a Amazônia”. Não são os produtores que destroem a Amazônia e sim pessoas de má fé buscando especulação imobiliária, garimpo, extração de madeira de forma, na maioria das vezes, ilegal e esses sim deveriam pagar multas e cumprir com a lei!

É importante ressaltar aqui nesta matéria que, para que grande parte da produção rural seja realizada aqui no Brasil, existe uma parceria anual de fundos de incentivos do Governo Federal junto aos Bancos e Agências Cooperativas de Créditos, que destina verbas de financiamento para os pequenos, médios e grandes produtores realizarem suas atividades. Para o acesso a esses créditos, é necessário adequação às leis ambientais, cadastro rural ambiental atualizado, ou seja, 

de maneira mais simples: Sem financiamento para grande parte da produção agropecuária no Brasil não existe produção. Sem áreas de preservação ambiental comprovadas, regularizadas, não existe financiamento. Não existindo financiamento não existe produção. Compreenderam?

Em resumo, no meio de todas essas informações e desinformações, está mais do que na hora de produtores rurais evidenciarem o seu dia a dia no campo, suas atividades e suas áreas de preservação, como a melhor forma de combater as falsas notícias que geram impactos negativos no setor. Sabemos que o agro só cresce, que existe desmatamento ilegal, garimpo ilegal e muitos outros problemas que estão longe de serem do produtor que faz sua lição de casa. O nosso principal papel é justamente defender o setor, podendo contribuir com informações verídicas de quem trabalha debaixo de sol e chuva na sua produção, preservando para as próximas gerações e mostrando que o agronegócio pode ser um grande aliado da natureza!

Produtores rurais precisam aprender a se comunicar urgentemente, pois as notícias falsas circulam bem mais do que dados precisos e a parte afetada é o Agro da porteira para dentro. Se isto persistir, o resultado pode ser drástico, comprometendo apoio tanto do governo quanto da sociedade à produção rural.

Falta de comunicação também pode causar impacto na segurança alimentar do futuro, fica a reflexão.