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Nesta semana, trouxemos um assunto que está preocupando sojicultores do Mato Grosso para a próxima safra: A anamolia das vagens e quebramento da soja. O que é? Como manejar este problema?
Para ajudar a responder com os dados que temos disponíveis, o técnico agrícola e engenheiro agrônomo mesrtando em fitopatologia, Felipe Escobar, esclarecerá tudo para vocês.
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Com o seu aparecimento em grande escala na safra 19/20, a anomalia das vagens e o quebramento da soja continua sendo um mistério quanto as suas reais causas. Todavia, muita pesquisa e dedicação vem sendo entregue em várias universidades e instituições do Brasil.
O que é a anomalia das vagens?
Acredita-se que a anomalia das vagens está relacionada a doenças fitossanitárias e o quebramento da soja direcionado ao aspecto fisiológico da planta e a temperatura. A anomalia das vagens se caracteriza pelo escurecimento no início do enchimento de grão vindo a evoluir a um apodrecimento do legume e assim acarretando em perdas de qualidade e consequentemente peso do grão. Com o quebramento da haste da soja, visualizado a partir do colo do caule até o primeiro trifólio, compromete o estande de plantas e dessa forma não atendendo a produção desejada.
O início das pesquisas ocorreu em laboratório, afim de identificar agentes causadores de doenças presentes nas vagens coletadas. Foram encontrados fungos do gênero Cercospora, Colletotrichum, Phomopsis, Fusarium e Macrophomina nas vagens. Vale ressaltar que todos esses patógenos já estão registrados como causadores de doenças em soja, não havendo a presença de gêneros desconhecidos. Próximo passo será analisar esses fungos nas plantas de soja e observar/estudar os sintomas que a anomalia das vagens causa.
E o quebramento da haste da soja?
Para o quebramento da haste da soja, possuem pesquisas relatando que genótipos de soja apresentam diferentes susceptibilidades ao quebramento da haste, mas, épocas de semeadura e nutrição de plantas possuem maior relevância neste problema. Semeaduras mais tardias da mesma cultivar apresentaram menores indícios deste problema quando comparadas com semeaduras do cedo. Algumas condições ambientais, principalmente pela maior temperatura irradiada nas plantas semeadas no início da janela de semeadura contribuíram para o quebramento. No âmbito nutricional, o fluxo de água e nutrientes no floema e xilema não foram comprometidos, uma vez que existiram plantas carregadas, com grãos em quantidades normais, mas com a haste quebrada. Porém, há um desequilíbrio de nutrientes, não sendo conclusivo quais elementos realmente estão ligados a isso, mas que alguns deles, presentes em menor escala promovem plantas com o quebramento da haste.
Porque devemos nos preocupar com a anomalia das vagens?
Agricultores relatam que em mais de 20 anos produzindo soja no estado nunca viram uma doença tão severa que ataca a vagem, e o que mais deixa preocupante é que em todas as áreas foram encontrados sintomas da doença. Eles também ressaltam a importância da força tarefa que está sendo realizada em busca de respostas para tais problemas e utiliza diferentes manejos como o uso de biológicos, inimigos naturais e rotação de culturas, uma vez que não possuem estratégias desenvolvidas para solucionar tais problemas. O grande temor para os sojicultores mato-grossenses detém-se em qual o manejo específico para lidar com essas situações e uma vez que o cenário é preocupante pois já se estende por boa parte do estado.
Existe prevenção para a próxima safra?
Já que ainda não existe conclusões concretas sobre o que são esses problemas e como maneja-los, é possível pensar em um manejo integrado, aliando fitopatologia e nutrição. Por existirem vários patógenos oportunistas ocorrendo em um mesmo problema, a utilização de fungicidas no momento correto aliado a multissítios visando a proteção da planta se torna uma das estratégias para a anomalia das vagens. Rotação de culturas, diminuindo o inóculo, sementes sadias e com alto potencial germinativo (PG) serão cruciais para o bom arranque inicial e estabelecimento da cultura. Quanto ao quebramento da soja, evitar uma janela de semeadura que possuam previsões de maiores temperaturas é inevitável, porém, um solo bem nutrido permitirá uma grande produção.
Para a realização desta matéria foram coletadas informações das pesquisadoras Carolina Deuner e Monikéli Silva (Fitopatologia) e do pesquisador Geraldo Chavarria (Fisiologia). Agricultores Luiz e Renata Marchiori e Vitor Gatto contribuíram com relatos dos problemas em suas propriedades.
Crédito da imagem: Carolina Deuner, Sorriso, 2022