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Como a pecuária ocupa uma grande fatia do nosso agro, queríamos trazer um pouco para os nossos leitores, um assunto de interesse de muitos dos nossos produtores: o bem estar do nosso gado. Para trazer uma análise e dicas práticas para vocês, hoje trouxemos um artigo do querido Junior Guerreiro, estudante de medicina veterinária na Universidade do Oeste Paulista (unoeste), filho de pequeno produtores rurais e influencer digital.
Encontre outras matérias de convidados aqui, e aproveite o artigo de Junior abaixo.
Os animais são seres sencientes (têm a capacidade emocional de sentir dor, medo, prazer, angústia, alegria e estresse), além de terem memória e habilidade de guardar diferentes lembranças. Com o gado não é diferente. Um bovino pode se apegar a você como um cachorro, mas o comportamento de ambos é individual e diferente.
O que pode influenciar diretamente no comportamento do animal?
Após 20 anos convivendo diariamente com gado, posso afirmar que, se você gera um trauma em um animal (seja um susto ou agressão), eles não só nunca irão esquecer, mas vão lembrar exatamente do ambiente em que ocorreu e quem causou o trauma. Consequentemente, ficarão estressados e com medo do ambiente em que ocorreu, além, principalmente, da pessoa agressora. Como diz aquela famosa frase, “toda ação gera uma reação”.
Existem diversas formas de fazer um manejo correto e adequado do gado, e quando alinhado com o bem-estar do animal, o manejo fica muito mais fácil quando os animais forem colocados no curral, por exemplo, ou quando curar um animal a pasto. E a violência NUNCA é uma opção.
Nelore é a raça de bovino mais predominante no Brasil. Eu recebo diariamente perguntas sobre essa raça nas minhas redes sociais. A maioria delas se resumem em “como eu consigo deixar esses animais tão mansos e capazes de não ficarem agressivos, mesmo quando dão à luz?”. O grande “segredo” é o contato, ter uma relação próxima e amigável.
Como se aproximar?
A melhor maneira de se aproximar de uma vaca é com comida – seja sal, ração, punhado de milho ou batata – sempre colocando na mão e deixando o animal cheirar, nunca chegando repentinamente ou falando em voz alta, pois isso pode assustar e fazer com que o animal corra de você.
A confiança não vem instantaneamente, pelo contrário, leva muitos dias e demanda muita paciência e respeito com o limite do animal. É comum alguns animais não permitirem que você encoste neles, mas irão perceber que você não é uma ameaça.
Vacas recém-paridas têm um instinto materno muito forte, o que dificulta muito na hora de curar um bezerro a pasto. Por isso, é importante ter uma relação próxima com ela, facilitando todo o processo.
E o bem-estar, influência?
A resposta é SIM! Quando o assunto são animais de produção, muitos produtores não se atentam ao bem-estar. A frase mais comum para a justificativa de uma falta de bem-estar é: “Vai morrer mesmo”.
Vale lembrar que animais que são tratados e vivem em condições ideias de bem-estar tendem a oferecer uma produtividade maior e melhores índices reprodutivos.
E como eu avalio o bem-estar dos animais?
O conceito das 5 liberdades é uma espécie de declaração dos direitos dos bichos, que hoje norteia as boas práticas de bem-estar animal. Os animais que estão sob esses requisitos terão uma melhor comodidade e, consequentemente, irão ter um alto índice de produtividade. Eis quais são:
- Livre de fome e sede
- Livre de desconforto
- Livre de dor, ferimento e doença
- Livre de medo e angústia
- Livre para expressar seu comportamento natural
Portanto, é imprescindível que os animais vivam nessas condições para ter um bem-estar completo e positivo, evitando maus-tratos e garantindo padrões mínimos de qualidade de vida para os animais.