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Artigo: A sucessão familiar em empresas do agro

Artigo: A sucessão familiar em empresas do agro

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O Gigante 163 convida diversos especialistas, produtores e influenciadores para colaborar com conteúdos que interessam os nossos leitores – profissionais do agronegócio.

Um assunto que sempre interessa aos nossos leitores, principalmente os produtores do Mato Grosso, é o da sucessão familiar no agro. Por isso hoje convidamos a influenciadora Juliana Ferreira Bomfim, sucessora da Piramaq Máquinas Agrícolas, para nos contar um pouco de sua história de sucessão. Em sua matéria ao Gigante 163, ela aborda a história da sucessão e conta como foi sua escolha pela sucessão. 

Encontre outras matérias de convidados aqui, e aproveite o artigo de Juliana abaixo. 

O processo de globalização, desencadeado pela revolução digital, tem causado um impacto enorme na estrutura trabalhista do sistema econômico capitalista. A perda de muitas posições de trabalho, por outro lado, tem dado oportunidade à formação de novos empreendimentos, especialmente os de caráter familiar. E um dos maiores problemas enfrentados pelas empresas familiares é exatamente o processo sucessório

As bases conceituais, estruturais e funcionais da empresa familiar vem desde quando usava a prática do “escambo”, isto é, a troca entre os indivíduos, de: produto por produto, produto por serviço, serviço por serviço e serviço por produto. Nesta época, os sobrenomes familiares eram identificadores da atividade do indivíduo. Assim: o pescador possuía o sobrenome de “Fisher”; o caçador, de “Hunter”; o madeireiro, de “Woods”; o carpinteiro, de “Carpenter”; o ferreiro, de “Ferrari”; e assim por diante. A maioria desses nomes (em inglês, italiano, alemão etc.) acabaram por permanecer como nomes de família, através de gerações e gerações. Perpetuaram-se, assim, os nomes, embora nem sempre tenham também se perpetuado as profissões na família. As famílias, portanto, transmitiam uma herança de pai para filho que, além do sobrenome, identificava a atividade produtiva do indivíduo. Quanto melhor e mais cotizada sua atividade, mais conhecido era seu nome. Em outros termos, a família era uma verdadeira empresa, de produção de alguma coisa ou de prestação de algum tipo de serviço. Naqueles tempos remotos, a maioria das atividades era afeta ao setor agrícola e de implementos de guerra.

Nos tempos modernos, a situação da atividade familiar como empresa não é muito diferente. A empresa familiar, via de regra, inicia seu histórico em decorrência de um sonho do seu fundador. A empresa cresce, expande e se solidifica. A tendência dos filhos em seguir os passos do progenitor, porém, parece hoje muito mais rara. Em decorrência disso, quando é chegado o momento de passar o bastão da empresa a um herdeiro sucessor, começam as complicações no negócio familiar. Isso, quando não é antecipado o referido momento de sucessão, por conta de alguma situação inesperada e indesejada, como uma doença impeditiva (parcial ou total, temporária ou permanente) ou, até, o falecimento prematuro do fundador.

O planejamento sucessório é um meio para que seja mais fácil a sucessão. Existe uma grande diferença entre aquele que herda por disposição legal, daquele que o faz por vontade de quem está dispondo de seus bens. Ou seja, que decididamente cabe ao sucedido definir as regras da sua sucessão, planejando-a antes que esta se faça obrigatória por força de lei (em caso de morte ou impedimento permanente, por exemplo). A questão, contudo, é que parece ser muito elevado o número de empreendedores que não atentam para a sucessão, tornando-a muito mais um problema do que um processo de continuidade.

Considerado um dos maiores consultores mundiais em empresas familiares, LANSBERG, apud BERNHOEFT (1996), ensina que o sucesso de uma empresa familiar está na capacidade de seus membros separar os três chapéus, que não podem se sobrepor:

  • O chapéu de membro da família (pais, irmãos, cunhados, noras, etc.)
  • O chapéu de acionista e
  • O chapéu de executivo da empresa.

Não se pode misturar as figuras, os direitos e os deveres de membro da família, acionista e gestor da empresa familiar, sob pena de se permitir a instalação de conflitos de interesses entre os membros da família, prejudicando e colocando em risco o processo sucessório e o sucesso do negócio. A sucessão representa o poder de continuidade de um nome de família. Ela representa a história de vida e a estruturação patrimonial ao longo das gerações que se sucedem.

KIGNEL (1993, p.32) reforça que é necessário se entender quem herda por disposição legal e quem herda por vontade daquele que está dispondo de seus bens. Isto significa dizer que cabe ao sucedido definir as regras de sua sucessão, planejando-a antes de que está se faça obrigatória por força de lei.

O Brasil tem se destacado como uma nação com grande potencial de crescimento econômico voltado para a agricultura visto à necessidade de alimentação e o crescimento da população mundial (ARAÚJO, 2010). Para tanto, esse estudo buscou analisar as características mais marcantes do processo de sucessão vivenciado pelos sucessores, sucedidos e gestor em uma empresa familiar.

Observamos que uma nova geração mais preparada para os processos de gestão da empresa (custos, controles, recursos humanos, contabilidade e tecnologias de produção agrícola) e para trabalhar com o comércio internacional; em contrapartida, diminuindo o contato direto com a terra, mas sem perder o compromisso com ela. Podemos compreender que a sucessão não é um evento – algo que ocorre pontualmente – é um processo que demanda atenção e tempo, como abordam Passos et al. (2006). A consolidação de valores familiares como confiança, dedicação, transparência e profissionalismo como cerne da empresa familiar também permite uma transição transparente e efetiva (SHARMA et al., 2001). Quando se tem um sucedido com características de fácil delegação de poder, o processo também se torna menos traumático, onde o espaço para a nova geração desenvolve-se de fato. Além disso, podemos apontar que no processo de sucessão familiar, com as diferentes gerações, o negócio familiar teve vantagem, com a implantação de novas tecnologias aliadas à experiência de décadas da família no cultivo da terra.

Como filha única de empresário do ramo, desde a infância vivo nossa empresa, por muitas vezes dormi de baixo das mesas da firma, fui em clientes, reuniões, fechamentos de negócios etc. Minha mãe (professora) foi nosso financeiro por anos até que os negócios se consolidarem, a união da nossa família fez com que nossa empresa crescesse. Com isso sempre tive certeza de que continuaria no mesmo ramo. Foi então que escolhi cursar direito (para cuidar da parte administrativa) ao invés de um curso ligado diretamente no agronegócio.

A sucessão familiar acaba sendo para muitos um tormento, medo de não entregar os mesmos resultados, não saber lidar com todas as incertezas que o mercado comercial nos traz, mas com meu pai aprendi que todo desafio é mais uma oportunidade de vitória.

O agronegócio é família, história e amor.

Com as reviravoltas da vida, todo dia acordo a certeza de que a sucessão foi a minha melhor escolha. Problemas enfrentamos sempre, mas quando estamos em algo que amamos e que já está na nossa essência tudo fica mais fácil, amo a minha profissão faço e não sei o que faria se não tivesse tomado essa decisão.

Maria Aparecida Ferreira Bomfim, professora da educação infantil.

Juliana Ferreira Bomfim, Digital influencer do agro e sucessora da Piramaq Máquinas Agrícolas.

Dougras Mogrs de Jesus Bomfim, empresário a mais de 13 anos e proprietário da Piramaq Máquinas Agrícolas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNHOEFT, Renato. Empresa familiar. São Paulo: Nobel, 1989.

____________ & CORTONI, Suzy. As herdeiras. São Paulo: Noberl, 1993.

Anais do I EGEPE – Maringá – Paraná – 2000 312

____________ & CASTANHEIRA, Joaquim. Manual de sobrevivência para sócios e herdeiros.

São Paulo: Nobel, 1995.

____________. Como criar, manter e sair de uma sociedade familiar (sem brigar). São Paulo:

Editora SENAC São Paulo, 1996.

COHN, Mike. Passando a tocha. São Paulo: Makron Books, 1991.

DEL FABBRO, Gianni. A sucessão familiar (entrevista). Trento/Itália: Maio, 1997.

EHLERS, Magda Geyer. Empresa familiar. 1999. http//www.mge.com