O sueco Johan Rockström, um dos maiores climatologistas do mundo, diz que é preciso fazer uma revolução nos sistemas alimentares para limitar o aquecimento da temperatura global em 1,5ºC neste século. Codiretor do Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK), na Alemanha, ele também falou sobre a ameaça de um colapso na Amazônia, citando um estudo lançado esta semana na COP 28, em Dubai.
“Temos que reconhecer que chegou a hora de alimentar a humanidade com as terras agrícolas existentes. Não podemos continuar a expandir. Acabou-se. Já transfomamos 40% a 45% da superfície terrestre do planeta em agricultura. Quase metade da superfície da Terra é agrícola. Temos que aceitar que a metade restante tem de ser preservada”, disse em entrevista publicada pela Valor.
De acordo com o cientista, a agricultura no mundo emite cerca de 10 bilhões de toneladas de CO2 equivalente por ano. É o setor que, sozinho, emite mais carbono. Desses 10 bilhões, cerca de seis bilhões são metano e óxido nitroso, provenientes principalmente da criação de gado e da utilização de fertilizantes. Os 4 bilhões de toneladas restantes são CO2 proveniente do desmatamento e da degradação dos solos.
“Basicamente, trata-se de uma gestão insustentável das terras agrícolas. Portanto, basicamente, trata-se de fazer a transição de uma agricultura convencional, que queima carbono e destrói ecossistemas, para uma que produz mais carbono nos solos e evita o corte de árvores na Amazônia, mantendo intacta toda a floresta remanescente. Isto é uma revolução agrícola. E é também um ponto de inflexão, um “tipping point”, que ainda não atingimos.”
Estratégia
Em artigo publicado pelo Globo Rural, Deise Dallanora, líder da Varda para o Brasil e América Latina reforçou que a agricultura sustentável é a solução para o futuro e destacou o potencial do Brasil neste cenário. Para ela, o caminho é a rastreabilidade, estratégia que serve como parâmetro para a preservação e recuperação de áreas desmatadas, bem como para a comprovação de boas práticas agrícolas.
“Rastrear a cadeia de produção de alimentos, desde o plantio das sementes até o transporte para a armazenagem e o embarque no porto, é uma tarefa complexa e requer a colaboração entre diferentes agentes e intermediários. Certificar a origem sustentável desses produtos exige a coleta e análise de uma quantidade significativa de informações”, aponta Dallanora.
Para Deise, é inviável discutir as mudanças climáticas sem abordar o impacto que as intempéries têm gerado na agricultura global. Dados do último levantamento da Safra de Grãos, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 9 de novembro, revelam que a produção brasileira de grãos da safra 2023/2024 deve sofrer uma redução de 4,7 milhões de toneladas, ficando 1,5% abaixo do obtido em 2022/23.
Tipping points
A urgência por estas soluções é reafirmada por Rockström. De acordo com ele, foram confirmados 16 tipping points, ou pontos de virada climáticos dos quais cinco podem ocorrer com 1,5ºC. Na análise climática, o risco da floresta amazônica cruzar o ponto de inflexão seria com um aumento da temperatura média global de 3ºC a 5ºC.
“Quando se tem em conta a ecologia, o desmatamento, a perda de biodiversidade e as mudanças no regime de chuvas em função do corte de árvores, o risco de ultrapassar o ponto de ruptura é muito mais próximo. Já se perdeu cerca de 17% da floresta na parte brasileira da Amazônia. E pode ser que um desmatamento de 20%, combinado com a mudança climática, possa desencadear um tipping point”, explica o cientista.
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