A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou na COP28 um roteiro global para acabar com a fome e todas as formas de subnutrição no planeta sem exceder o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris. O documento descreve uma estratégia abrangente para os próximos três anos e lista um portfólio diversificado de soluções, informam Guardian e Bloomberg.
Com a perspectiva de 600 milhões de pessoas enfrentando fome crônica até 2030 e o agravamento da crise climática, o roteiro pede uma mudança transformadora nos sistemas agroalimentares, questionando a narrativa predominante de que aumentar a produção se traduz em mais emissões e degradação ambiental. Assim, destaca a oportunidade dentro dos sistemas agroalimentares de aprimorar a eficiência de produção alinhada aos objetivos de mitigação, adaptação e resiliência climáticas.
O documento lista 120 ações e marcos importantes em dez domínios. Estes incluem energia limpa, cultivos, pesca e aquicultura, perda e desperdício de alimentos, florestas e áreas úmidas, dietas saudáveis, gado, solo e água, além de dados e políticas inclusivas.
Quanto às emissões, o objetivo da proposta é reduzir as emissões de metano dos sistemas agroalimentares em 25% até 2030 em relação a 2020; alcançar a neutralidade de carbono até 2035; e transformá-los em um sumidouro de carbono até 2050, capturando 1,5 gigatoneladas de gases de efeito estufa anualmente.
Em entrevista ao Valor, o sueco Johan Rockström, codiretor do Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK), na Alemanha, ressaltou a necessidade de se fazer uma “revolução” nos sistemas alimentares globais como uma das tarefas para respeitar o limite de temperatura fechado no Acordo de Paris.
“Temos que reconhecer que chegou o momento de alimentar a humanidade com as terras agrícolas existentes. Não podemos continuar a expandir.”
A Bloomberg lembra que mais de US$ 3 bilhões em financiamento climático foram prometidos para alimentos e agricultura desde o início da COP28. Além disso, governos, instituições filantrópicas e investimentos privados estão aumentando o financiamento para enfrentar o metano no setor, acabar com o desmatamento e promover inovações climáticas inteligentes, à medida que a cúpula finalmente coloca o que o mundo come em uma posição mais alta em sua agenda.
Mas, como destaca o Guardian, lobistas de empresas de agricultura industrial e grupos comerciais compareceram em número recorde na conferência do clima, com três vezes mais delegados (340) representando a indústria de carne e laticínios em comparação com o ano passado. Estavam presentes representantes de algumas das maiores empresas de agronegócios do mundo, como a JBS, o gigante de fertilizantes Nutrien, a Nestlé e a Bayer, além de influentes grupos de lobby da indústria.
((o))eco relata que o Brasil foi o país que mais enviou lobistas do setor agropecuário para Dubai. Os dados, levantados pela organização britânica DesMog, mostram que dos 340 lobistas, 36 eram brasileiros, sendo a maioria ligada justamente à indústria da carne: 34.