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Investimento em pequeno produtor pode frear alta de 50% nos alimentos

Investimento em pequeno produtor pode frear alta de 50% nos alimentosTemática deve ser abordada durante a COP29. Foto: Emanuel Cavalcante/Embrapa Amapá

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Por André Garcia

Em 2024 os efeitos das mudanças climáticas foram sentidos no prato: fenômenos extremos destruíram colheitas e elevaram os preços dos alimentos no mundo todo. O cenário tende a se repetir com mais frequência a partir de agora e a taxa de inflação sobre os alimentos pode chegar a até 50% em 2035 e a 200% em 2060. Nessas condições, como alimentar a população do planeta nas próximas décadas?

A resposta está no investimento em pequenos agricultores de países em desenvolvimento, como o Brasil. Mas hoje, esta parcela do agronegócio é a que conta com menos recursos e está mais exposta às tragédias. Nesta semana, o jornal francês Le Monde apontou que esta é “uma falha moral e estratégica”, destacando a urgência de mais investimentos e de parcerias com a comunidade internacional.

“Pode-se afirmar, sem exagero, que a oferta de alimentos mundial entrará em colapso se os pequenos produtores desaparecerem. Este aumento dos preços é apenas o começo. No entanto, apenas 5 bilhões de dólares americanos (cerca de 4,68 bilhões de euros) são alocados anualmente a esses produtores no âmbito do financiamento para a ação climática, menos de 1% do total global”, diz trecho da publicação.

O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) estima que o déficit de financiamento para a adaptação para os sistemas agrícolas de pequena escala seja de cerca de 75 bilhões de dólares por ano nos países em desenvolvimento. Os valores destinados a estes modelos corresponderam a apenas U$ 5,53 bilhões em 2019-2020, ou seja, apenas 0,8% do total do financiamento climático em todos os setores.

“Os pequenos produtores muitas vezes vivem na pobreza e têm poucas opções. Eles precisam se adaptar ou estão destinados a passar fome”, afirmou recentemente o presidente do FIDA Álvaro Lario. “A adaptação não é apenas uma questão de segurança alimentar global, mas também de estabilidade geopolítica. O aumento dos preços dos alimentos, a fome e a pobreza geraram migrações forçadas e conflitos”, completou.

COP29

Atualmente, cerca de três bilhões de pessoas vivem em áreas rurais de países em desenvolvimento e dependem amplamente da agricultura em pequena escala para sua alimentação e meios de subsistência. Só no Brasil, são cerca de 4,1 milhões de pequenos produtores que correspondem a 84% do total das propriedades rurais no País e são responsáveis por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros.

Em comunicado publicado na última semana, o presidente do Fundo apontou que as questões relacionadas ao desenvolvimento dos pequenos sistemas agrícolas devem estar na pauta dos participantes da COP29, que acontece desde o dia 11/11 em Baku, no Azerbaijão.

“À medida que as mudanças climáticas transformam profundamente os sistemas alimentares, a única maneira de preservar a segurança alimentar global é priorizar o apoio à adaptação dos pequenos produtores e produtoras agrícolas a essa nova realidade. A primeira coisa que os líderes da COP29 precisam fazer é definir um objetivo ambicioso para o financiamento da adaptação, que permita continuar produzindo alimentos, apesar do aquecimento global”, pontuou.

Soluções

De acordo com o Le Monde, os pequenos produtores que cultivam menos de 2 hectares garantem 35% da produção mundial, com uma proporção ainda maior nos países de renda baixa ou média. Além disso, suas práticas são muito mais sustentáveis do que as de seus equivalentes na agricultura industrializada. Mas, se nada for feito, uma redução dos rendimentos das culturas, que pode chegar a 25%, é esperada até o final do século.

Assim, para evitar que as mudanças climáticas empurrem mais de 132 milhões de pessoas para a pobreza extrema, o FIDA elencou uma série de soluções para ajudar os pequenos produtores a se adaptarem. Elas incluem, por exemplo, irrigação adaptada ao clima, técnicas e infraestruturas de captação de água, culturas resistentes à seca, agroflorestamento, agroecologia e melhoria da gestão do solo.

Outro investimento importante diz respeito aos sistemas de alerta precoce, que avisam os agricultores sobre desastres iminentes, enquanto os serviços meteorológicos os informam sobre as condições em curso, períodos ideais de plantio e manejo das culturas. Além disso, fornecem orientações sobre o combate a pragas e doenças.

 

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