Por André Garcia
O acúmulo de carbono no solo a partir da integração lavoura e pecuária (ILP) pode ser até três vezes maior que o registrado pela sucessão de cultura de grãos. No primeiro caso, a quantidade de CO2 varia entre 0,60 e 0,90 tonelada por hectare ao ano, enquanto no segundo, mesmo na comparação com os mais altos desempenhos no ciclo soja – milho, o número não passa de 0,21.
Os dados são de uma pesquisa da Embrapa Arroz e Feijão (GO) publicada nesta quarta-feira, 5/3, e consideram o solo de Cerrado em Goiás. A projeção do acúmulo de carbono foi estipulada para o perfil de solo até a profundidade de 30 centímetros e o resultado aponta ainda incremento de carbono retido ao longo de 20 anos, projetados para o período entre 2019 e 2039.
A pesquisadora da Embrapa Beata Madari é uma das responsáveis pelo trabalho e conta que a conclusão vai ao encontro de outros estudos da área e pode ser explicada pela presença da forrageira braquiária no caso da ILP. Isso porque ela apresenta forte enraizamento em profundidade, o que, além de reciclar nutrientes, ajuda a aumentar o estoque de carbono no sistema pelo aporte de biomassa radicular e aérea.
Segundo ela, ainda assim a taxa de acúmulo de 0,9 tonelada por hectare ao ano surpreendeu os pesquisadores, especialmente levando em consideração o diagnóstico inicial da propriedade: solo argiloso (mais de 50% de argila) e com teor de carbono classificado entre baixo e médio, com aproximadamente 2%.
Para Madari, como os resultados obtidos na pesquisa realizada foram superiores, isso sinaliza que o manejo sustentável do solo e de culturas no Cerrado pode desempenhar um papel muito importante para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2).
Saúde do solo
Segundo a pesquisa, os melhores índices para todas as situações, seja em ILP, seja em sucessão de culturas, foi maior em plantio direto, em comparação aos sistemas de preparo convencional da terra (aração e gradagem). Isso ocorre porque o não revolvimento favorece maior estruturação, com a formação de agregados (pequenos torrões) que “empacotam” matéria orgânica, protegendo-a da rápida decomposição.
A pesquisadora da Embrapa Márcia de Melo Carvalho, que participou do estudo, também chama a atenção para a importância da proteção que o plantio direto proporciona. A estratégia garante uma camada protetora (palhada) contra o impacto de gotas de chuva, permitindo a infiltração da água, além da regulação da temperatura no solo. Logo, quanto mais matéria orgânica no solo, maior a proximidade de um estado de saturação com CO2.
Outros benefícios
Como já noticiado outras vezes pelo Gigante 163, além do acúmulo de CO2, estas práticas de manejo também melhoram a qualidade e a produtividade agropecuária. Só para começar a citar, a produção de grãos e pastagens na mesma área traz vantagens como: regulação do fornecimento de água, controle das emissões de gases de efeito estufa, ciclagem de nutrientes, manutenção da biodiversidade e controle biológico.
É o que foi constatado na Fazenda Pontal, em Nova Guarita (675 km de Cuiabá). Recentemente mostramos que, com base na ILP e na maior oferta de forragem durante o período seco do ano, o Sistema Pontal garantiu a inversão da estação de monta e aumentou a produtividade da pecuária de corte. Ali, a taxa de lotação chega a três unidades animal por hectare (UA/ha), número superior à média brasileira de 0,5 UA/ha.
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