Por André Garcia
Apontado como responsável pelo maior crime ambiental já cometido em Mato Grosso, o pecuarista Claudecy Oliveira Lemes recebeu mais de R$ 10 milhões em crédito rural do Banco do Brasil (BB). Ele é investigado pelo desmatamento químico de uma área de mais de 81 mil hectares no Pantanal.
De acordo com levantamento feito a partir de dados públicos, ele teve quatro financiamentos concedidos pelo Banco do Brasil entre março de 2021 e março de 2022. Os contratos estão vigentes e têm vencimentos previstos para 2027 e 2029. Todos eles foram concedidos à Fazenda Soberana.
Recentemente, mostramos que resoluções do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso (Codem) garantiram ao pecuarista a aprovação para receber R$ 7,8 milhões em financiamentos com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO).
Em 2020, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) já havia multado a Fazenda Soberana em R$ 6.853.650,00 por desmatamento ilegal em uma área equivalente a 1.370 hectares. Contudo, no ano seguinte, o BB concedeu três empréstimos a Claudecy para aquisição de 3 mil cabeças de gado.
Em 2022, um novo empréstimo foi concedido para a aquisição de um avião.
Em um dos autos de infração emitidos em 2023 pela Sema (Auto de Infração nº 1369000223), a Fazenda Soberana também aparece como receptora dos agrotóxicos possivelmente utilizados para a prática de desmate químico realizado nas fazendas vizinhas, todas de Claudecy.
Além da Soberana, outras quatro fazendas do pecuarista no Pantanal foram objeto de embargo da SEMA/MT. Sete autos de infração foram registrados nessas propriedades rurais entre 2017 e 2021. No total, esses autos somam R$ 37.896.943,50 em multas aplicadas.
O que diz o BB
À reportagem do Ecoa, o BB informou que não comenta casos específicos em respeito ao sigilo bancário e reiterou o compromisso para seguir as legislações e regulamentações sobre o tema.
“O BB está seguro sobre a conformidade em seus processos de concessão de crédito, que são acompanhados por órgãos reguladores e fiscalizadores”, diz trecho de nota enviada pela assessoria de imprensa.
Desmatamento químico
Alvo de operação da Polícia Civil de Mato Grosso (PJC), Claudecy é investigado por despejar 240 toneladas de agrotóxicos com avião agrícola em suas fazendas, localizadas em Barão de Melgaço (140 km de Cuiabá).
Segundo especialistas, a abrangência dos 25 agrotóxicos que ele teria usado para exterminar plantas e animais é muito maior que a área de suas propriedades e seus componentes continuarão a agir por décadas na região. A multa pelo crime e o valor da reparação do dano ambiental são de R$ 5,2 bilhões.
Reincidente em crimes ambientais, ele também vem descumprindo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público (MPMT) para a recuperação de vegetação em suas fazendas. Na última semana, ele teve o segundo pedido de prisão preventiva negado pela Justiça.
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