Ao fazer um balanço sobre a evolução do agronegócio e apontar caminhos para o futuro, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, 80, disse que o “céu é o limite” para o setor, mas para aumentar a produção “não é preciso desmatar mais nada”. Em entrevista publicada pela Folha de São Paulo no domingo, 16/7, ele disse que, para isso, é preciso enfrentar “bandidos” e “aventureiros”.
“A ilegalidade bate na sustentabilidade. Mas essa coisa [crime ambiental] que é feita por aventureiros e bandidos tem de ser enfrentada com o rigor da lei. Senão, o concorrente usa esses defeitos como se fosse o todo da agricultura, para depreciar nossa condição competitiva.”
Titular da pasta entre 2003 e 2006, no primeiro governo Lula, Rodrigues também avaliou que a utilização de pastagens degradadas para a agricultura é uma realidade, e que essas áreas podem suprir a necessidade de mais terras, garantindo aumento da produtividade com desmatamento zero.
“O Brasil tem hoje, mais ou menos, 9% do seu território com todas as plantas cultivadas, de alface a eucalipto. É muito pouco. Temos mais de 20% de pastagens. Uma pastagem pobre, já que a pecuária, durante muitos anos, foi uma atividade sem técnica. Mas isso mudou completamente nos últimos anos”, disse.
Competitividade
Para Rodrigues, o avanço do setor também depende da sustentabilidade, condição fundamental para a competitividade. Neste contexto, aponta que é preciso um controle rigoroso de doenças e pragas para garantir a segurança produtiva. A fala desemboca na importância da utilização de insumos biológicos, que hoje demandam importações.
O ex-ministro também cita a rastreabilidade, com identificação da origem da produção, como ponto crucial para acabar com o desmatamento ilegal, os incêndios criminosos, invasão e grilagem de terra, garimpo clandestino.
“A ilegalidade bate na sustentabilidade. Mas essa coisa que é feita por aventureiros e bandidos tem de ser enfrentada com o rigor da lei. Senão, o concorrente usa esses defeitos como se fosse o todo da agricultura, para depreciar nossa condição competitiva”, pontuou.
Tecnologia
Considerando que a produção mundial de alimentos vai crescer no cinturão tropical do planeta, ou seja, América Latina, África subsaariana e parte da Ásia, onde há terra disponível para aumentar a área produtiva, Rodrigues aponta que o líder será o Brasil.
“Quem detém tecnologia tropical sustentável é o Brasil, não só para alimentos, mas agroenergia, biomassa. O Brasil tem matriz energética 44% renovável. A do mundo é 15%, e 15% por causa do Brasil. Sem o Brasil, seriam 11%.”
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