Mesmo que o Brasil não tenha estatísticas organizadas sobre a mortalidade de abelhas, a percepção de órgãos de defesa e do próprio poder público é de que ela cresceu nos últimos anos, sobretudo após 2012. Em todas as regiões, o aumento está associado à popularização do fipronil, inseticida registrado no País desde 1994 e usado em 23 culturas, mas cuja patente venceu em 2008 e cedeu espaço para novas formulações. As informações são do Globo Rural.
Todas as notificações reunidas pelos serviços de defesa agropecuária estaduais são enviadas ao Ministério da Agricultura, no entanto a pasta afirma não ter uma estatística consolidada. Entre 2013 e 2015, a ONG Bee or Not to Be reuniu dados de produtores que perderam colmeias por morte massiva de abelhas. Foram 300 ocorrências em um ano e meio, mais de 80% delas atribuídas à contaminação por agrotóxicos.
“Obviamente que a gente não conseguiu fazer a análise de todos esses casos, mas sem dúvidas foi um primeiro levantamento bastante importante”, disse Daniel Gonçalves, presidente da organização.
A maior conscientização dos apicultores é importante para aumento de notificações e estas jogam luz ao problema. Em Mato Grosso, de acordo com Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), foram 45 notificações em 2023, sendo 13 por intoxicação. Em 2022, haviam sido cinco notificações.
“O que nós temos de expressivo é que, por conta de outras doenças de notificação obrigatória, começamos a fazer várias campanhas para os produtores procurarem o Indea, e isso pode ter interferido nessa quantidade de atendimentos”, avaliou o coordenador de Defesa Sanitária Animal do órgão, João Marcelo Brandini Néspoli.
Com os frequentes danos à apicultura, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) abriu em 2022 um processo de reavaliação do fipronil.
“Já se subentende que quando o polinizador (abelha) é atingido dessa forma existe um risco ecológico maior implicado no uso daquele ingrediente ativo. Quando mata a abelha dessa forma, com certeza está impactando outros organismos da fauna”, explicou Rosangela Muniz, diretora substituta da Diretoria de Qualidade Ambiental do Ibama.
Suspensão
Após suspender de forma cautelar a aplicação foliar em área total do fipronil no País, o Ibama não descarta impor restrições mais severas ao princípio ativo futuramente, assim que se encerrar o período de reavaliação da substância, informou o Globo Rural.
“Tem um ano que o processo de reavaliação começou, e essa foi uma medida cautelar. Achamos por bem suspender a aplicação foliar do fipronil, mas no final o Ibama costuma restringir ainda mais os usos e as culturas”, explicou Rosangela Muniz.
Além da suspensão da pulverização foliar em área total, o órgão também determinou que as empresas do setor publiquem folheto complementar, etiqueta ou outro meio eficaz advertindo o consumidor sobre a toxidade do produto para as abelhas.
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