Por André Garcia
Não é só no Pantanal que as queimadas se anteciparam e quebram recordes de destruição para este período do. A seca causada pelo El Niño no final de 2023 e potencializada pelos efeitos das mudanças climáticas também tem sido fatal para outras regiões do Brasil, que vê os incêndios florestais explodirem em cinco de seus seis biomas.
Dados levantados pela reportagem junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que, na comparação entre os acumulados de janeiro a junho de 2023 e de 2024, houve alta de 10.322 para 12.097 no Cerrado, de 8.344 para 12.696 na Amazônia, de 1.393 para 1.449 na Caating e de 2.728 para 3.746 na Mata Atlântica.
Somente no Pampa os números caíram de 361 para 118 no período, enquanto que no Pantanal, a situação chama mais atenção pelo salto de 1.853% nos registros, que passaram de 167 para 3.262. Isso, considerando que os números de junho deste ano só serão consolidados no dia 30.
A situação dos incêndios levou o Governo Federal a criar, na última semana, uma sala de situação para monitorar a questão na Amazônia e no Pantanal. O trabalho tenta antecipar uma resposta a condições que só eram esperadas para agosto.
“Nunca teve fogo no primeiro semestre no Pantanal. No primeiro semestre do ano, o Pantanal sempre esteve embaixo d´água”, disse a titular do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, durante lançamento da sala de Situação.
Bioma mais afetado
Como mostramos recentemente, o Pantanal queimou 9 milhões de hectares nas últimas quatro décadas e é o bioma brasileiro mais prejudicado pelo fogo proporcionalmente. Segundo relatório do MapBiomas, embora o número seja 4,5% dos 199,1 milhão de hectares queimados no País, ele representa 59,2% de todo o ecossistema.
A piora dos números neste ano reforça a relação entre as queimadas, o El Niño e as mudanças climáticas, uma vez que o Pantanal tem apresentado ciclos de estiagem cada vez mais prolongados. É o que explica o doutor em Ciências e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pantanal), em Corumbá.
“O Pantanal tem ciclos, épocas que passam realmente por esses períodos de estiagem. Desde 2018, teve início um novo ciclo de estiagem. Em 2023 foi um pouco atípico neste sentido, já teve um pouco mais de chuva, o rio chegou a níveis normais. Mas esse ano, vai ser bem acentuado, extremo de seca e a preocupação é que os níveis do rio Paraguai fiquem mais baixos do que em 2020 e 2021”, diz.
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