Por André Garcia
Durante seis meses, ambientalistas, produtores rurais e parlamentares de Mato Grosso buscarão soluções legislativas para que agronegócio e conservação ambiental alcancem o mesmo protagonismo no País. Para isso, a Assembleia Legislativa do Estado (ALMT) instalou, nesta segunda-feira, 29/5, a Câmara Setorial (CST) das Mudanças Climáticas.
Durante a reunião de instalação da CST, cientistas apresentaram pesquisas e dados que mostram a evolução do desmatamento, das emissões de gases de efeitos estuda (GEE) e as consequências para a vida no planeta.
Membro da Academia Brasileira de Ciência e um dos primeiros estudiosos da crise climática no País, o professor Carlos Nobre explicou que Mato Grosso emite uma média de 68 toneladas de GEE por habitante/ano, quase sete vezes mais do que a média brasileira de 10,5 toneladas por habitante/ano, sendo o segundo estado que mais emite.
Grande parte dessas emissões, segundo o pesquisador, está ligada a atividades agropecuárias, uma vez que 86% das emissões registradas no estado estão vinculadas à mudança do uso da terra e desmatamento.
“A emissão de gases de efeito estufa é um fenômeno natural e importante para manutenção da temperatura da terra. Por outro lado, quando há um desequilíbrio, as temperaturas ficam acima da média e os extremos climáticos começam a ser registrados com maior frequência, como é o caso das chuvas e secas intensas, incêndios florestais, quebras de safras”, afirmou.
Já o professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) Bem Hur Marimon Júnior apresentou estudos que apontam a perda de vegetação nativa no Cerrado e na Amazônia como consequência da seca e do calor extremo. Os dois pesquisadores, porém, foram enfáticos ao afirmar que a agropecuária é o problema, mas também parte da solução das mudanças climáticas.
Carlos Nobre citou ainda que, nos últimos anos, a produção agropecuária dobrou na região amazônica, destacando a importância de investimentos em técnicas que permitem intensificar a produção de alimentos, como a integração dos sistemas produtivos lavoura-pecuária-floresta, por exemplo.
De acordo com a ALMT, outra solução apresentada por ele foi com relação à restauração florestal, sistema que contribui para a captação de gás carbônico e ainda tem grande potencial de gerar renda para as pessoas.
O grupo também é integrado pela professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Cátia Nunes da Cunha, que destacou o papel de Mato Grosso na discussão.
“Todos aqui chegam a um ponto comum, que é da possibilidade de o Estado ocupar outro espaço. É o momento de unir as forçar, ter um diálogo justo, ético, equilibrado para mudar o lugar que Mato Grosso ocupa”, concluiu ela.
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