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Amazônia: árvores em MT têm mais chances de morrer durante a seca

Amazônia: árvores em MT têm mais chances de morrer durante a secaEstudo foi realizado em 11 regiões do bioma. Foto: Araquém_Alcântara/WWF Brazil

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Por André Garcia 

Árvores do sul e do centro-leste da Amazônia têm mais chances de morrer durante períodos de pouca chuva. Isso significa que o norte de Mato Grosso está ameaçado pelas secas, que vêm se tornando cada vez mais frequentes e duradouras devido às mudanças climáticas.

É o que mostra estudo que coletou amostras espalhadas por 11 regiões da floresta, incluindo o centro-leste do bioma, nas proximidades de Manaus e do Pará, e no Oeste, em territórios do Acre, Peru e da Bolívia. No total, foram mapeadas as condições de 540 árvores de 129 espécies diferentes.

A principal conclusão do estudo é que a Floresta Amazônica é, na verdade, composta por uma série de florestas diferentes entre si. O bioma não é uniforme e, por isso, as ações de preservação devem ser também direcionadas de acordo com o que se sabe sobre cada região.

Divulgado na última semana, o levantamento foi realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade de Leeds, do Reino Unido, e contou com o trabalho de mais 80 pesquisadores de todo mundo, liderados pela doutora em Ecologia e Mudanças Climáticas Julia Tavares.

Em entrevista à InfoAmazônia na última semana, a  pesquisadora explicou que o objetivo era entender como as diferentes regiões da floresta respondem a períodos de seca.

“Uma das medições que a gente fazia era para ver a pressão da água no interior das árvores e entender o quanto elas estão estressadas pela seca. Do mesmo jeito que a gente usa a pressão sanguínea para medir o estresse do ser humano. Na árvore, a gente usa a pressão da água.”

O efeito desmatamento

A partir daí, ficou constatado que uma das principais causas de mortalidade de árvores, a falha hidráulica, ou seja, a falha no transporte de água da raiz das árvores para partes mais altas, é mais provável em regiões como a Reserva Nacional Tambopata, no Peru, e em áreas do sul da Amazônia, como no caso do norte de Mato Grosso.

Embora as árvores nesta região apresentem maior grau de adaptação para lidar com a seca, o risco é maior porque esta parcela do território já passou por uma redução nos padrões de chuva causada pelo desmatamento, o que levou as árvores ao limite de sua capacidade.

“Mesmo as árvores que são naturalmente mais resistentes às secas estão sofrendo muito porque o descompasso da mudança climática é muito rápido, e elas não aguentam. Isso é extremamente preocupante, e é algo que precisa ser levado em conta cada vez que ocorre a temporada de secas e queimadas”, afirma a pesquisadora.

Originalmente, a região sul da floresta pode sofrer mais com a seca, pois divide margens com biomas como o Cerrado e também com fronteiras agrícolas. Além disso, nesta porção, as árvores são mais resistentes a períodos secos devido à produção de biomassa, impulsionada pelo crescimento em solos pouco férteis.

Queimadas

Como mostrado pelo Gigante 163, antes mesmo de fechar o sexto mês de 2023, já haviam sido detectados 2.911 focos de queimadas na Amazônia. A marca é a maior dos últimos 16 anos, só perdendo para junho de 2007, quando foram registradas 3.519 queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

“O estudo avalia apenas a falta de água no solo, que é causada pela seca, e não pelas queimadas. Mas, é claro, o fogo vai pegar com mais facilidade quando a floresta está mais seca. A importância do nosso estudo é que ele foi o primeiro a avaliar a vulnerabilidade da Amazônia em escala regional, ou seja, da Amazônia inteira”, explica Tavares.

Logo, com o agravamento das mudanças climáticas, no entanto, é possível que as queimadas provocadas tomem proporções maiores por conta das secas mais duradouras – e muitas árvores da Amazônia podem não ter mais capacidade de resistir a nenhum dos dois fenômenos.

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