Por André Garcia
Se o aquecimento global atingir 2°C, cenários de “seca agrícola”, como o que foi registrado na Amazônia em 2023, se tornarão 3 vezes mais prováveis e deverão acontecer cerca de uma vez a cada 13 anos. É o que aponta um estudo do grupo World Weather Attribution (WWA) apresentado nesta quarta-feira, 24/1.
A seca agrícola diz respeito não só aos efeitos sofridos pelo bioma, mas também às consequências para as atividades agrícolas e à segurança alimentar. Como noticiamos à época, em algumas regiões amazônicas os rios atingiram seus níveis mais baixos em mais de 120 anos, impactando milhões de pessoas e causando prejuízos ao agronegócio.
E a situação pode piorar, já que o aumento do calor, impulsionado pelas mudanças climáticas e pela atividade humana tem elevado significativamente a probabilidade de ocorrência deste fenômeno extremo.
Segundo o estudo, o aumento na ocorrência deste fenômeno extremo é impulsionado quase que inteiramente pelas mudanças climáticas e pela ação humana. O resultado dessa combinação, além da seca agrícola, é que períodos de chuvas extremamente baixas também se tornarão 4 vezes mais prováveis, com ocorrência a cada 33 anos.
Para Friederike Otto, professora sênior em Ciências Climáticas no Instituto Mudanças Climáticas e Meio Ambiente (Grantham), da Imperial College de Londres, o resultado é preocupante e se continuarmos queimando petróleo, gás e carvão, muito em breve alcançaremos o aquecimento de 2°C na temperatura global.
“Nossas escolhas na batalha contra as mudanças climáticas continuam as mesmas em 2024 – continuar destruindo vidas e meios de subsistência queimando combustíveis fósseis, ou garantir um futuro saudável e habitável substituindo-os rapidamente por energia renovável e limpa”, avaliou.
Para quantificar o efeito das mudanças climáticas na seca, os cientistas analisaram dados meteorológicos e simulações de modelos para comparar o clima atual, após cerca de 1,2°C de aquecimento global, com o clima pré-industrial mais frio, seguindo métodos revisados por pares.
Neste contexto, considerando o clima atual, as secas agrícolas, com pouca chuva e alta evapotranspiração, podem acontecer a cada 50 anos. O levantamento concentrou-se na Bacia Amazônica e analisou a situação ao longo de seis meses, de junho a novembro do ano passado.
Nova realidade
Com a seca prevista para se intensificar na Amazônia até que as emissões globais se reduzam a zero, os pesquisadores afirmam que governos e comunidades devem se planejar para eventos mais frequentes no futuro, envolvendo agricultores, comunidades indígenas e outros interessados locais.
Professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Regina Rodrigues explica que o bioma é decisivo na luta contra as mudanças climáticas, uma vez que a floresta age como o maior sumidouro de carbono terrestre do mundo.
“Mas se permitirmos que as emissões induzidas pelo homem e o desmatamento a levem ao ponto de inflexão, ela libera grandes quantidades de dióxido de carbono, complicando ainda mais nossa luta contra as mudanças climáticas. Precisamos proteger a floresta tropical e nos afastar dos combustíveis fósseis o mais rápido possível.”
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