Por André Garcia
A área queimada no Brasil de janeiro a novembro de 2024 quase dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a mais recente edição do Monitor do Fogo, do MapBiomas. Divulgados nesta segunda-feira, 16/12, os dados mostram que, ao todo, 29,7 milhões de hectares foram queimados no período – um aumento de 90% em relação ao mesmo período de 2023 e a maior extensão dos últimos seis anos.
Os números são alarmantes, especialmente considerando que 2023 já havia registrado uma tendência de alta. Este cenário compromete não apenas os biomas mais afetados, como Amazônia e Cerrado, mas também o próprio equilíbrio climático, uma vez que a capacidade de regeneração das florestas é afetada. O risco é explicado por Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM e coordenadora do Monitor do Fogo do MapBiomas.
“Esse aumento desproporcional da área queimada no Brasil em 2024, principalmente a área de floresta, acende um alerta de que além de reduzir o desmatamento, precisamos reduzir e controlar o uso do fogo, principalmente em anos onde as condições climáticas são extremas e podem fazer o que seria uma pequena queimada virar um grande incêndio”, afirma ela.
De acordo com o levantamento, mais da metade (57%) da área queimada entre janeiro e novembro no Brasil fica na Amazônia, onde 16,9 milhões de hectares foram afetados pelo fogo. Na região, foram devastados 7,6 milhões de hectares de florestas, incluindo florestas alagáveis – extensão que ficou à frente das pastagens queimadas no período na Amazônia, que totalizaram 5,59 milhões de hectares.
O segundo bioma mais afetado pelo fogo foi o Cerrado, com 9,6 milhões de hectares – 85% dos quais (ou 8,2 milhões de hectares) em áreas de vegetação nativa. Esse número representa um aumento de 47% em relação à média dos últimos 5 anos. Houve aumento também no Pantanal, onde a área queimada de janeiro a novembro foi de 1,9 milhão de hectares e representou um crescimento de 68% em relação à média dos últimos 5 anos.
Mato Grosso é o vice-líder no ranking da destruição
O estado que mais queimou nos 11 primeiros meses deste ano foi o Pará, com 6,97 milhões de hectares. Esse total equivale a 23% de toda a área queimada no Brasil e a 41% do que foi queimado na Amazônia entre janeiro e novembro. Mato Grosso e Tocantins ficaram em segundo e terceiro lugares, com 6,8 milhões e 2,7 milhões de hectares, respectivamente.
Juntos, esses três estados totalizaram 56% da área queimada no período no país. Os municípios de São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) registraram as maiores áreas queimadas entre janeiro e novembro de 2024, com 1,47 milhão de hectares e 837 mil hectares queimados, respectivamente
Área queimada em novembro concentra-se na Amazônia
Os números mostram que em novembro a estação do fogo no Brasil começou a frear, mas ainda assim, eles estão em patamares mais altos que em 2023. Embora represente uma queda em relação aos 5,2 milhões de hectares queimados em outubro, a área afetada pelo fogo em novembro foi 70% maior em relação à média para esse mês nos últimos seis anos.
A Amazônia representa 81% do total queimado em novembro, com o dobro do número registrado em relação à média para o mês nos últimos seis anos. O pesquisador do IPAM e da equipe do Monitor do Fogo do MapBiomas, Felipe Martenexen, explica que isso reflete a intensificação das atividades humanas na região e a continuidade de condições climáticas adversas, com a seca que se estendeu entre 2023 e 2024.
“Este aumento considerável evidencia a crescente vulnerabilidade das florestas diante da seca prolongada e da pressão do desmatamento. Em 2024, observou-se uma mudança preocupante no padrão das áreas atingidas pelo fogo, enquanto nos últimos seis anos as queimadas afetaram predominantemente áreas de pastagem, neste ano as florestas passaram a ser as mais impactadas”, destaca.
Dentro da Amazônia, quase metade (48%) da área queimada em novembro fica no Pará, onde 870 mil hectares foram afetados pelo fogo. Maranhão (477 mil hectares) e Mato Grosso (180 mil hectares) são o segundo e o terceiro estados com maior área queimada em novembro.
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