Por André Garcia
O Brasil queimou 22,38 milhões de hectares (ha) entre janeiro e setembro de 2024, alta de 150% em relação ao mesmo período de 2023. Os dados, divulgados pelo MapBiomas nesta sexta-feira, 11/10, mostram que o estrago foi potencializado em setembro, especialmente na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, os biomas mais atingidos.
Historicamente o mês é marcado pela estiagem e pelo aumento dos focos de calor, uma vez que a vegetação ressecada e os ventos mais fortes facilitam a propagação do fogo. Este ano, contudo, a situação foi agravada pelas alterações nos padrões climáticos, que tornaram os períodos de seca mais intensos e prolongados.
Para se ter ideia, enquanto foram queimados 5,65 milhões de hectares em agosto, em setembro o número quase duplicou, chegando a 10,65 milhões, um salto de 90% de um mês para o outro. Na comparação com setembro de 2023, a diferença é ainda maior: 181%, ou 6,8 milhões de ha.
O levantamento do Monitor do Fogo do MapBiomas mostra que três em cada quatro hectares queimados (75%) foram de vegetação nativa, maioria em formações florestais, que representam 30% do total. Entre as áreas de uso agropecuário, as pastagens novamente se destacaram, correspondendo a 20% da área queimada.
Mais da metade da área queimada fica na Amazônia
A Amazônia concentra 51%, da área queimada nos nove primeiros meses deste ano, com 11,3 milhões de hectares consumidos pelas chamas. A situação é agravada pela pior estiagem registrada no bioma em 45 anos, conforme vem sendo informado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
“O período de seca na Amazônia tem sido particularmente severo este ano, agravando ainda mais a crise dos incêndios na região – um reflexo da intensificação das mudanças climáticas, que acabam tendo papel crucial para a propagação de incêndios”, reforça a diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar.
Cerrado e Pantanal
Mas o contexto da seca e da emergência climática não restringiu os danos a apenas um bioma. Só no mês passado o Cerrado teve 4,3 milhões de hectares queimados, quase metade dos 8,4 milhões de hectares registrados nos primeiros nove meses do ano e um aumento de 117% em relação ao mesmo período de 2023.
“Setembro marca o pico da seca no Cerrado. Com a vegetação extremamente seca e vulnerável, o fogo se espalha rapidamente, resultando inclusive na baixa qualidade do ar nas cidades próximas, afetando a saúde das populações urbanas e rurais”, detalha a pesquisadora no IPAM e coordenadora técnica do Monitor do Fogo, Vera Arruda.
Já no Pantanal, a área queimada ao longo de 2024 aumentou 2.306%, o que significa 1.479.475 hectares a mais que a média dos cinco anos anteriores. Foram queimados 1,5 milhão de hectares nos primeiros nove meses do ano. Um quinto desse total (20%) foi queimado em setembro (318 mil hectares).
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