Por André Garcia
Dados do MapBiomas sobre o avanço do garimpo lançam um alerta sobre duas das bacias hidrográficas mais importantes do Brasil. Tapajós e Teles Pires, ambas com abrangência em Mato Grosso, têm 102 mil hectares ocupados pela atividade. O Dia Mundial dos Rios foi comemorado no domingo, 24/9.
Publicados na sexta-feira, 22/9, os números mostram que a Tapajós é a mais afetada, com 54,8 mil hectares (20%). Já a Teles Pires concentra 48,1 mil hectares (18%). Considerando as cinco primeiras colocadas no ranking, formado também pelas bacias de Jamanxim, Xingu e Amazonas, no Pará, as bacias concentram 66% da área garimpada do país.
Uma das consequências disso é o assoreamento dos rios e a contaminação de suas águas por mercúrio. Neste ano, um estudo publicado pela Fiocruz mostrou que o metal utilizado na extração do ouro contaminou peixes consumidos em seis estados da região da Amazônia, bioma que concentra 92% da área da atividade no País.
Além disso, como já mostrado pelo Gigante 163, o garimpo ilegal também está fortemente ligado ao aumento no desmatamento, à sedimentação dos rios, à grilagem de terras e ao aumento da violência no seu entorno.
Neste contexto, o estudo do MapBiomas aponta que em 2022, 39% da área garimpada no Brasil estava dentro de uma Terra Indígena (TI) ou Unidade de Conservação (UC), ou seja, em uma área ilegal.
Pensando nos rios, a situação se torna mais preocupante se considerarmos o impacto de outras atividades. Isso porque as bacias, que se estendem do norte do Estado ao Pará, também são ameaçadas por outros setores, como o das hidrelétricas.
O último Relatório de Resultados do Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA) mostra que no Tapajós, além do garimpo crescente, projetos de novas hidrelétricas tem avançado. Em toda a Amazônia, 23% das UCs apresentam índice de impacto considerado alto.
Crise hídrica
Um estudo do WWF sobre 12 milhões de quilômetros de 246 grandes rios do mundo mostrou que pouco mais de um terço (37%) deles pode ser considerado um “rio de curso livre”, que é a condição para que um curso d’água mais ofereça benefícios ambientais e serviços ecossistêmicos.
Os rios também vítimas do aquecimento global. Um novo estudo da Penn State University em 800 dos rios dos Estados Unidos e da Europa mostrou que em 87% deles a temperatura média da água se elevou e em 70% houve e a perda de oxigênio, o que pode resultar em altas taxas de mortalidade de peixes.
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