Uma das vozes mais respeitadas em assuntos como responsabilidade fiscal e política monetária, o economista Armínio Fraga defende a economia verde como um dos pilares do desenvolvimento brasileiro. Mas, para isso, os bancos multilaterais precisam de capacidade para assumir mais riscos e ajudar a catalisar a atração do capital privado.
“Agora, minimizar risco bancário é mais ou menos ter a certeza do desastre. Vai ser preciso ousar para financiar uma transição bem-sucedida”, explicou em entrevista ao Reset na qual sustentou que uma das medidas mais importantes neste cenário é a reforma e capitalização dos bancos multilaterais.
Ex-presidente do Banco Central e fundador da Gávea Investimentos, Fraga avalia que o Brasil tem oportunidades de investimento de toda sorte e que isso precisa fazer parte de uma estratégia que conecte a transição energética, a imagem externa do País e que lide com temas como desmatamento e mineração.
Desmatamento zero
Neste caminho, aponta que o País precisa ser mais ambicioso e pensar em desmatamento zero líquido. Não à toa, é entusiasta da restauração de florestas nativas com geração de créditos de carbono, negócio desenvolvido pela startup Re.green, da qual é um dos principais sócios e também conselheiro.
“Não sou radical, mas o produto final tem que ter ação do governo para produzir reflorestamento. Pensando sob ponto de vista estratégico e macro, poderia resumir dizendo que, se a Costa Rica fez isso, a Nova Zelândia fez, só porque o Brasil é maior não significa que nós não possamos fazer.”
Fraga lembra que, no governo passado, o Brasil “adquiriu uma imagem muito ruim”. Para ele, embora os prejuízos desta estratégia sejam enormes, o governo atual é consciente disso e está fazendo o que pode. Ainda assim, falta dar mais prioridade às questões da transição energética.
Mercado de carbono
Outra preocupação é a evolução do mercado regulado de carbono, que enfrenta dificuldades, com muito lobby e com setores querendo ficar fora, como o agro, que, de acordo com ele, recentemente ganhou o direito de captar recursos com instrumentos livres de impostos.
“O próprio agronegócio, que tem sido um herói na área da economia, já tem vantagens enormes, com um regime de imposto de renda que também beira o absurdo, porque eles podem ficar no regime do lucro presumido, pagando 6% sobre o faturamento, sem limite”, afirma.
Do ponto de vista do governo, a economia verde pode ser alavancada com instrumentos clássicos de correção, como o imposto sobre o carbono e o cap and trade, que impõe um limite de emissões [mecanismo do mercado regulado em discussão no Congresso]. Pela mesma ótica, quem captura carbono deveria receber subsídios.
“Há muito espaço para a presença do Estado, desde que haja uma lógica de retorno social do capital, o que no caso significa olhar para setores que impõem um custo ao resto da sociedade com a sua atividade. O que queremos é um mercado que tenha as bases legais bem desenhadas e que permita que esse setor se desenvolva livremente”, conclui.
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