Por André Garcia
Barata, sustentável e lucrativa, a recuperação de pastagens não é novidade para o leitor do Gigante 163. Além aumentar a produtividade do gado, a técnica pode alçar o país à liderança no mercado de carbono. Estes são só alguns dos fatores que a colocam no radar dos empresários do agro e de ambientalistas, levando-a, inclusive, a figurar no discurso de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como meta de governo.
Para explicar melhor a popularização do termo e de seus benefícios, elencamos algumas razões que devem fazer com que ele se torne ainda mais comum a partir de agora.
Para começar, a reutilização de terras degradadas contribui para o combate ao desmatamento, compromisso firmado pelo atual governo. Considerando que no Brasil 63% de toda a área de produção pecuária tem algum nível de degradação, esta é uma boa aposta. Além disso, do total de 152 milhões de hectares, 96 milhões estão ameaçados segundo a ONG Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
Do ponto de vista mercadológico, o professor de Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – Campus Sinop, André Oliveira, aponta que as pastagens representam um dos maiores ativos ambientais da pecuária brasileira.
“Quando as pastagens são bem manejadas e produtivas, é possível neutralizar o carbono emitido pelos animais ou obter balanço de carbono positivo no sistema de produção. Ou seja, sequestrar mais carbono do que emitir”, disse
Ao Gigante 163 ele explicou recentemente que a técnica pode ser utilizada para neutralizar as emissões de metano por meio da captura do CO2, o que é ótimo para o país.
“Ao contrário de vários concorrentes internacionais, a pecuária brasileira é baseada em pastagens de gramíneas tropicais perenes, que têm grande capacidade fotossintética, e, portanto, de armazenamento de carbono no solo.”.
Do lado oposto ao manejo inteligente, as pastagens degradadas têm capacidade fotossintética muito baixa.
“Consequentemente, a produtividade animal e a capacidade de armazenamento de carbono no solo são reduzidas, o que torna o balanço de carbono desfavorável, com emissões maiores que o sequestro do gás.”
Mais barato que desmatar
No ano passado, um estudo realizado pela Scot Consultoria com apoio das organizações Solidaridad e WWF-Brasil, em parceria com a TFA (Tropical Forest Alliance), mostrou que recuperar sai bem mais barato que desmatar e abrir mais pasto. Segundo o levantamento, o valor é menor que o necessário para o desmate na criação de gado, já que o custo médio da reforma é de R$ 2.982,18 por hectare, enquanto o de desmatamento é de, no mínimo, R$ 3 mil por hectare.
Os números são significativos para Mato Grosso, onde a área expandida para pasto se estende aos três biomas do Estado: Amazônia, Cerrado e Pantanal, correspondendo a 22,7% da cobertura do solo no território. A título de comparação, a agricultura, principal atividade econômica mato-grossense, compreende 12.%, com total de 11.5 milhões de hectares.
Por aqui o pasto também é 164 vezes maior que o de toda área urbanizada, que corresponde a apenas 122.6 mil hectares divididos entre 141 municípios. Os dados fazem parte de mapeamento do MapBiomas, e apontam que, ao lado de Mato Grosso, o Pará (1ª posição) e Minas Gerais (3ª posição) compõem a lista das maiores áreas de pastagem brasileiras, com 21.1 milhões e 19.3 milhões de hectares, respectivamente.
Bom para o gado e para o bolso
As vantagens na produtividade também fizeram com que a recuperação se tornasse base indispensável de programas como o Fazenda Pantaneira Sustentável e o Integra Zebu, que que oferecem suporte técnico a pecuaristas de Mato Grosso. Nestes casos, a técnica faz parte de uma série de ações voltadas também à tecnologia e gestão.
Um dos exemplos bem-sucedidos disso está na Fazenda Esperança, localizada em Santo Antônio do Leverger (34 km de Cuiabá). Com aumento de 20% no peso dos bezerros desmamados, a propriedade se tornou referência quando o assunto é tecnologia e manejo sustentável de pasto. Em cinco anos as adaptações ajudaram a diminuir a idade do primeiro parto, que oscilava entre 29 e 34 meses, para 28 meses.
Já na Fazenda São Bento, em Jaciara (144 km de Cuiabá), a média de lotação da propriedade saltou de 3,4 unidades animais por hectare (UA/ha) para 13,81 UA/ha. O trabalho na área, de cerca de 6 ha, começou em agosto de 2021. Desde então, a pastagem passou por estudos e processos de fertilização, controle de gramínea invasora e aplicação de adubo de cobertura.
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