Por André Garcia
A adoção de modelos da bioeconomia pode resultar em aumento anual de pelo menos R$ 40 bilhões no PIB da Amazônia Legal (AML), além de garantir o crescimento de todos os setores, incluindo a agropecuária. É o que mostra o estudo Nova Economia da Amazônia, lançado nesta terça-feira, 20/6, pelo instituto de pesquisa WRI.
Ao apresentar os dados, o economista sênior do WRI Brasil e um dos coordenadores do levantamento, Rafael Barbieri explicou que os modelos foram desenvolvidos por diferentes instituições brasileiras e combinados ao longo de quase três anos para projetar cenários para a economia no bioma em 2050.
“Hoje a Amazônia legal tem um déficit comercial com o restante do Brasil de R$ 114 bi. Isso indica uma balança comercial desfavorável, basicamente porque tem baixa exportação de produtos de baixo valor agregado e uma importação de produtos de alto valor adicionado”, explica.
Considerando o Acordo de Paris, que estabelece desmatamento zero, a restauração florestal e adequação da agropecuária e da matriz energética à produção de baixa emissão de carbono, os resultados projetam, além do acréscimo de R$ 40 bi no PIB, geração 312 mil empregos a mais, 81 milhões de hectares em florestas adicionais e estoque de carbono 19% maior em comparação ao modelo atual de desenvolvimento baseado em atividades intensivas em desmatamento e emissões.
“O PIB do Brasil teria R$ 226 bi a mais [em 2050], ou seja, você teria um crescimento muito maior na Amazônia, mas um reflexo no PIB do restante do Brasil e um crescimento dos setores primários, secundários e terciários”, disse.
Neste cenário, o PIB brasileiro totalizaria R$ 14,658 trilhões, valor 35% maior que os R$ 9,9 trilhões registrados em 2022. Outra vantagem importante é o aumento de 19% de estoque de carbono, ativo ambiental para lastro de créditos, negociações climáticas e atração de financiamentos.
Segundo o estudo, se o modelo atual de desenvolvimento for mantido, em 2050 a emissão de carbono será cinco vezes maior do que as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e 57 milhões de hectares de floresta seriam destruídos, área equivalente ao território da França.
Além disso, o controle do aquecimento global seria praticamente inviabilizado e a Amazônia se aproximaria do seu ponto de não retorno, o que significa o colapso do ecossistema.
O papel da agropecuária
Para alcançar estes números, o País precisa apostar em atividades competitivas e inclusivas e a agropecuária, hoje principal setor econômico brasileiro, deve apertar o passo se quiser se livrar da degradação florestal e garantir sua relevância até 2050.
“Quando falamos de bieconomia não estamos falando de bioinsumos ou bioprodutos. Não é o produto que define [o conceito], mas o processo. Isso faz toda diferença e é isso que conduz uma cadeia à sustentabilidade e a capacidade de perpetuar esse modelo”, diz Rafael.
No caso do agronegócio, essa transição demanda investimentos adicionais de R$ 442 bilhões, focados em massificação das práticas de baixa emissão de carbono e intensificação produtiva exclusivamente em áreas já degradadas, com combate à desigualdade rural.
Os serviços ambientais da floresta saudável gerariam maior produtividade da terra, menor suscetibilidade ao estresse hídrico, e menor perda de fertilidade do solo, que impulsionariam o setor, permitindo crescimento através de capital e trabalho e não de novas terras.
“A agropecuária na Amazônia Legal seguirá contribuindo fortemente para o crescimento do PIB, mas precisa reduzir o impacto ambiental.”
Custo de transição
Para implementar a Nova Economia da Amazônia o país precisa investir R$ 2,56 trilhões até 2050 ou 1,8% do seu PIB ao ano. Embora seja alto, o valor corresponde a apenas 0,8% a mais do que o nível de investimento atual.
O montante seria dividido entre R$ 659 bilhões no uso estratégico do solo, R$ 410 bilhões na mudança na matriz energética e R$ 1,49 trilhões na infraestrutura. Esses investimentos não seriam aplicados somente na Amazônia Legal, já que os fluxos financeiros e informacionais conectam a região ao restante do Brasil.
Para o setor público, a principal tarefa será desonerar as atividades de baixa emissão, além de criar um arcabouço e de taxonomias que orientem o mercado financeiro para estimular os investimentos verdes. Para isso, é necessário um marco legal do mercado de carbono no Brasil e um debate sobre redirecionamento de subsídios.
Já ao setor privado, caberia aumentar sua capacidade de inovar e exercer seu papel de propulsor da economia.
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