Por André Garcia
Em decorrência das mudanças climáticas, a disponibilidade de água pode cair até 40% em regiões hidrográficas do Centro-Oeste, Norte, Nordeste e parte do Sudeste até 2040. A projeção é ilustrada pelo cenário atual de perdas econômicas e sociais decorrentes de eventos extremos que devem se tornar mais comuns em muitas regiões no Brasil.
É o que mostra o estudo “Impacto da Mudança do Clima nos Recursos Hídricos do Brasil”, lançado na quarta-feira, 31/1, pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Os impactos projetados variam de acordo com a região, mas, no geral, concordam com aumentos na temperatura e evapotranspiração.
A publicação considera cenários de curto, médio e longo prazo, incluindo grandes centros urbanos e regiões importantes para a produção agrícola. Embora sujeitas a incertezas, as projeções de mudança climática apontam para uma série de desafios futuros para o País.
Por exemplo, se, por um lado, a maior parte das regiões deve ser castigada pela seca, por outro, a disponibilidade hídrica pode crescer até 5% no Sul, mas com maior frequência de cheias e inundações. Já no caso da perda de água, devem aumentar os trechos de rios intermitentes (que secam temporariamente), especialmente na região Nordeste.
Essas perdas econômicas, que ocorrem em vários setores, da agricultura ao turismo, terão efeitos profundos nas comunidades locais. Déficits mais frequentes, como os que esse estudo projeta, implicarão em aumento de custos para a sociedade, necessitando de estratégias de adaptação por parte dos usuários de água para mitigar os danos.
Durante a live de lançamento do estudo, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), João Paulo Capobianco, destacou que a gestão dos recursos hídricos é uma das principais ferramentas de adaptação para a mudança climática, porque será preciso preparar a população e as cidades.
Plano de ação
Dentre os prejuízos citados, está a geração de energia hidroelétrica e com impactos particularmente para a agricultura de subsistência. Além disso, os riscos para a saúde crescerão com as taxas de crescimento populacional regional e as vulnerabilidades nos sistemas de abastecimento de água, saneamento, gestão dos resíduos e poluição.
Capobianco destacou ainda que não existe justiça social e combate à fome sem uma boa gestão de recursos hídricos. Desta forma, essas situações demandam preparação.
“Um relatório recente da ONU aponta que 700 milhões de pessoas serão deslocadas por falta de abastecimento por recursos hídricos, em um planeta que tem água, mas a degradação vai obrigar a migrarem. Haverá impactos disso sobre as gestões públicas, cidades e campo, que deverão buscar soluções mais adequadas”, disse.
O diretor interino da ANA, Nazareno Araújo, apresentou o levantamento e destacou a necessidade da adoção de uma política mais ampla, como o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, construído pelo Ministério do Meio Ambiente, para preservação dos recursos hídricos do país.
“O nosso estudo foi baseado em diversos modelos climáticos; portanto, não é apenas um modelo climático. A partir do modelo climático global, várias modelagens foram desenvolvidas, o que nos fez identificar um consenso, uma convergência de cenários”, concluiu Nazareno.
LEIA MAIS:
Mudanças climáticas preocupam mais brasileiros, diz pesquisa
Cerrado perdeu água continuamente entre 2000 e 2019
Mineração usa 578 bilhões de litros de água e pode ameaçar agro
Crise da água ameaça US$ 58 tri em economia e em sustentabilidade
Sema inicia recuperação de áreas degradadas do Rio Araguaia
Agro tem a chave para sobrevivência do berço das águas
Retirada de água do meio ambiente atingiu 4,1 trilhões de m³ em 2020