Por André Garcia
Juntos, o Cerrado e a Amazônia concentraram cerca de 86% dos 199,1 milhões de hectares queimados no Brasil nos últimos 39 anos. Segundo dados divulgados pelo MapBiomas nesta terça-feira, 18/6, a área atingida pelo fogo nestes dois ecossistemas corresponde, respectivamente, a 88,5 milhões e 82,7 milhões de hectares.
“É preciso considerar que, embora tenham números absolutos semelhantes de área queimada, esses biomas têm tamanhos diferentes. Por isso, no caso do Cerrado, a área queimada equivale a 44% de seu território, enquanto na Amazônia, esse percentual foi de 19,6%, ou seja, um quinto de sua extensão”, diz trecho do relatório.
Como já noticiado, os números apontam para padrões históricos claros sobre o quê, quando e quanto queima no País anualmente. Por exemplo, é entre julho e outubro que são registrados 79% das ocorrências, que costumam envolver queimadas maiores nos anos em que o fenômeno La Niña age sobre o clima, o que está previsto para 2024.
Nesse sentido, por terem características distintas, os biomas demandam estratégias específicas tanto do Governo Federal quanto dos estados.
No começo de junho, a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), Marina Silva, destacou a importância da parceria com os estados ao lançar um pacto com governos da Amazônia para combater os incêndios, em razão das projeções de seca intensa que já afeta a região.
Ela afirmou que o governo precisará de recursos extraordinários para contratação de brigadistas e políticas de prevenção, sob risco de ver uma tragédia semelhante à do Rio Grande do Sul, mas, neste caso, em razão da estiagem.
Diferenças entre os biomas
De acordo com o MapBiomas, as características do fogo diferem em cada uma destas regiões. Na Amazônia, considerada extremamente sensível às chamas, a queima é causada principalmente pelo desmatamento e práticas agrícolas, resultando em uma grande perda de biodiversidade.
É o que reforça a coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de Ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar.
“A Amazônia enfrenta um risco elevado com a ocorrência de incêndios devido à sua vegetação não ser adaptada ao fogo, agravando o nível de degradação ambiental e ameaçando a biodiversidade local, enquanto a seca histórica e as chuvas insuficientes para reabastecer o lençol freático intensificam a vulnerabilidade da região”, pontua.
Por outro lado, no Cerrado a adaptação ao fogo faz parte da evolução do bioma, que depende de queimas naturais e controladas para se manter. Contudo, conforme a coordenadora técnica do MapBiomas Fogo e pesquisadora do IPAM, Vera Arruda, a expansão agropecuária e uso indevido do fogo têm alterado este regime natural.
“O Cerrado tem sofrido com altas taxas de desmatamento, o que resulta no aumento de queimadas e no risco de se tornarem incêndios descontrolados, alterando o regime natural. Essas mudanças impactam negativamente o equilíbrio ecológico, pois o fogo está ocorrendo com uma frequência e intensidade que a vegetação não pode suportar.”
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