Por André Garcia
O Cerrado teve 27% da sua área de florestas naturais devastada entre 1985 e 2022 e é o bioma com a maior porcentagem de perdas no Brasil. De cada cinco hectares desmatados no País, mais de quatro (83% do total) foram suprimidos na região, segundo levantamento do MapBiomas publicado nesta sexta-feira, 20/10.
Nesse período, a área ocupada por florestas naturais no território nacional passou de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares, uma redução de 15%. Os últimos cinco anos responderam por 11% dos 87,6 milhões de hectares de florestas naturais suprimidas nestes 38 anos. Desse total, mais de 75 milhões de hectares estavam em propriedades privadas.
Os dados nacionais ajudam a compreender um dos maiores problemas enfrentados pelo Cerrado, que, como já mostrado pelo Gigante 163, é marcado por extensas áreas de devastação concentradas em poucas propriedades. Os latifúndios concentraram 48% (ou 193 mil hectares) do desmatamento registrado em propriedades privadas no bioma durante o primeiro semestre de 2023.
A questão se agrava, se considerado ainda o fato de que devastação na região é, em grande parte, autorizada, o que limita a fiscalização e leva à consecutiva quebra de recordes negativos. Para se ter ideia, a área de alertas de desmatamento no bioma cresceu 149% em setembro em relação ao mesmo mês de 2022. Altas também foram registradas em agosto e julho.
“Em biomas como no Cerrado e na Caatinga, que já perderam parte significativa de sua vegetação nativa, o ritmo do desmatamento das savanas é alarmante, principalmente na região do Matopiba, que ainda apresenta grandes remanescentes deste ecossistema, mas que estão sendo convertidos para a expansão da agropecuária”, destaca a pesquisadora da equipe do Cerrado no MapBiomas, Barbara Costa
Dinâmica do agronegócio
Outro dado nacional ajuda a compreender a realidade do bioma: quase a totalidade (95%) da conversão de florestas naturais no Brasil foi para a agropecuária, ou seja, após o desmatamento a área foi convertida para uso agropecuário – seja pastagens ou cultivo agrícola.
Nas duas primeiras décadas da série, observa-se um aumento da perda de florestas, seguido de um período de redução da área desmatada a partir de 2006. No entanto, nos últimos cinco anos houve um aumento da perda de florestas, chegando a quase 10 milhões de hectares.
“As florestas são importantes não apenas para manter o equilíbrio climático, mas também para proteger os serviços ecossistêmicos vitais para a sociedade e sua economia. A perda contínua das florestas representa uma ameaça direta para a biodiversidade, a qualidade da água, a segurança alimentar e a regulação climática”, salienta Julia Shimbo, Coordenadora Científica do MapBiomas.
Amazônia
O mapeamento de florestas naturais abrange tipos diversos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. Juntos, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos eles são considerados, a Amazônia (78%) é onde há a maior proporção de florestas naturais em 2022. O bioma perdeu 13% de florestas naturais.
Proporção de florestas
Os estados com maior proporção de floresta são Amazonas (93%), Acre (85%) e Amapá (82%). O estado do Amazonas também apresenta a maior área de floresta com 145 milhões de hectares, quase um terço das florestas do País (29%), seguido do Pará (93 milhões de hectares) e Mato Grosso (47 milhões de hectares).
A área de floresta desses três estados representa mais da metade da área das florestas brasileiras (58%). Mas Mato Grosso e Pará também lideram os estados que mais perderam área florestal natural, com 31,4 milhões de hectares e 18,4 milhões de hectares respectivamente. Já os estados de Rio de Janeiro e São Paulo ganharam área de floresta entre 1985 à 2022.
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