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Clima exige substituição urgente do uso fogo no campo

Clima exige substituição urgente do uso fogo no campoHoje planos de combate são autodeclaratórios. (Antonio Cruz/Agência Brasil)

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Por André Garcia

A temporada seca mal começou e os biomas brasileiros já padecem sob as chamas. Com chuvas abaixo do previsto e vegetação mais seca, especialmente no Pantanal, o cenário é um exemplo claro da nova realidade climática, um contexto que exige resiliência e adaptação no campo e eficiência das políticas de combate ao fogo.

É isso que apontam especialistas ouvidos pelo Gigante 163, ao destacarem a necessidade de um projeto adaptado à nova realidade climática e às particularidades de cada ecossistema do País. No Pantanal, onde 700 mil hectares já foram destruídos, a adoção de práticas do passado já não faz sentido.

“Estamos em um momento complexo de mudanças climáticas e transição de El Niño para La Niña, o que traz um novo comportamento do clima e um ambiente muito diferente, com nascentes diferentes das que se tinha na década de 60, quando houve uma seca parecida”, diz o geógrafo e pesquisador do Instituto Gaia Pantanal, Clóvis Vailant.

Ou seja, a queima para renovação pastagem, comum na região que passava metade do ano alagada, tem se tornado inviável. Mesmo os aceiros, que consistem na queima controlada de trechos da vegetação para impedir a passagem do fogo, foram comprometidos neste ano. Ou seja, o fogo, antes um aliado do produtor rural, agora é um inimigo.

“Tivemos problemas com aceiros por conta dos ventos que estão atípicos e jogam a brasa a muitos metros de distância. Neste ano, vimos o fogo pular no Rio Paraguai. Labaredas absurdas criaram redemoinhos de fogo que foram lançados para o outro lado do rio, a cerca de 80 metros”, conta.

Clóvis atua em Cáceres (420 km de Cuiabá- MT), sexto colocado entre os municípios com mais focos de calor no Brasil neste ano, com 479 ocorrências segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entre os municípios do Pantanal, a situação só é pior em Corumbá (425km de Campo Grande- MS), que tem 2.476 focos.

Crédito: Inpe

Plano de Combate

Segundo nota técnica do Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais (Lasa), da UFRJ, 85% dos focos de calor no Pantanal ocorrem em propriedades privadas. O levantamento aponta ainda que em maio e junho todos eles foram causados por ação humana, não havendo registros de incêndios causados por raios no período.

Para Clóvis, um dos principais desafios para evitar que esses relatos continuem se repetindo é a estruturação e profissionalização de planos de combate aos incêndios nas propriedades rurais, uma vez que, mesmo sendo obrigatórios, hoje eles são auto declaratórios.

“Ou seja, o proprietário pode só declarar que as medidas estão de acordo com o indicado. Quando se abre um estabelecimento na cidade, por exemplo, os bombeiros vistoriam aquele lugar e emitem uma licença apontando a regularidade daquela estrutura para o combate a um eventual incêndio. O mesmo tem que acontecer no campo”, afirma.

Outra questão que deve ser considerada na elaboração dos planos, é que o manejo do fogo deve ter como referência as microbacias hidrográficas. Mas, vale destacar que agora o uso de fogo no Pantanal está proibido e quem descumprir a lei poderá ser punido com multa, apreensão de bens e prisão.

Política Nacional

A estruturação desses planos ocorreria dentro de uma política de manejo integrado do fogo, que deve considerar tanto a preservação ambiental, quanto os aspectos funcionais e culturais do seu uso em diversas práticas agrícolas e as funções ecológicas, conforme explica a líder do programa Clima da Amigos da Terra (AdT), Luciane Simões.

Na semana pssada o Senado aprovou o Projeto de Lei (PL) 1.818/2022, que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. Em análise desde 2022, a proposta, que segue agora para sanção presidencial, disciplina o uso do fogo no meio rural e prevê sua substituição gradual por outras técnicas, além de criar instâncias para gerenciamento de crises.

“A aprovação do PL vai trazer um avanço significativo na prevenção e ajudar tanto os produtores quanto às comunidades. Insisto que a implementação dos planos de manejo integrado do fogo devem aliar sempre o conhecimento tradicional com a ciência, então é preciso manter uma constância nesse diálogo com os produtores”, pontuou Luciane.

 

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