Por André Garcia
A restauração otimizada de apenas 10% da área degradada da Amazônia é capaz de gerar uma receita de até R$ 132 bilhões, segundo um estudo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS). Para Mato Grosso, o dado não poderia ser melhor. O Estado, um dos líderes nacionais do desmatamento e queimadas no bioma, apresenta diversas regiões com excelente potencial para a recuperação.
De forma bastante simplificada, esse alto potencial é medido pelo nível de degradação florestal. Ou seja, quanto pior a situação de uma área, maior a possibilidade de ela ser transformada e passar a dar lucro. Uma boa oportunidade de fazer dos limões uma limonada, já que, de acordo com os números do Prodes, base de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Estaduais (Inpe), Mato Grosso desmatou 152.257 km2 do bioma nos últimos anos.
A bióloga e doutora em Ecologia e Evolução Raísa Vieira e o geógrafo Eduardo Lacerda, que fizeram parte da equipe responsável pelo estudo da IIS, falaram ao Gigante 163 sobre esta lógica, que privilegia a otimização do trabalho e do dinheiro. Para os pesquisadores, levantamentos como este são importantes porque subsidiam o mercado a partir de um pressuposto básico: a perspectiva de retorno.
“Em qualquer setor, o investidor quer saber onde é mais rentável aplicar seu recurso. No caso da restauração florestal, o primeiro passo é a priorização, que computa informações e mostra quais são as possibilidades e o custo benefício para ele escolher melhor sua rota”, diz Eduardo.
Para apontar este caminho, eles utilizaram o método de Priorização Espacial Multicritério, equilibrando três benefícios: sequestro de carbono, redução do risco de extinção de espécies e retorno socioeconômico. Considerando a restauração de 10% da floresta, constatou-se em um dos cenários multicritério custo total de US$ 9,8 bilhões. Em um cenário uniforme, sem priorização, o valor chegou a US$ 33 bilhões.
Lucro multiplicado
Dada a fórmula da economia, o lucro com a restauração se multiplica por toda a cadeia produtiva, já que há aumento na demanda por viveiros e sementes, cresce o número de vagas de emprego e incentiva-se a produção madeireira. Para Raísa, surgem ainda novas possibilidades de financiamentos, de consórcios para atingir metas e de acesso a programas para regularização e obtenção do crédito florestal.
“Novas formas de renda são geradas com a floresta em pé. Na Amazônia temos muitos exemplos de iniciativas que estão dando certo, inclusive em Mato Grosso, temos exemplos que servem para outros estados. São iniciativas que devem ser ampliadas”, diz.
Na avaliação da bióloga, o modelo de priorização representa a realidade em escalas que podem ser utilizadas pelos tomadores de decisões em diferentes esferas.
“O governo e a prefeitura, por exemplo, podem usar esse balanço para pensar em políticas que incentivem a restauração, trazendo esses números para a realidade e chamando os envolvidos no debate”, pontua.
Eduardo lembra que os resultados da otimização espacial dependem diretamente da definição dos objetivos do trabalho e das particularidades de cada área, como por exemplo, a atribuição de importância diferencial a áreas protegidas e assentamentos rurais.
“Há áreas prioritárias por toda a Amazônia. Algumas são mais importantes para a conservação da biodiversidade, clima, impacto social, enquanto outras são importantes para todos esses fatores juntos. Pode ser que a análise de um determinado cenário aponte que o custo não seja tão bom. Isso acontece porque o benefício ao meio ambiente em determinada região pode ser maior.”
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