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Com início das queimadas, começa correria de idosos e crianças a hospitais

Com início das queimadas, começa correria de idosos e crianças a hospitaisSintomas podem prejudicar pulmões, vasos sanguíneos e imunidade. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Estiagem prolongada desde o final de março, aumento no número de queimadas em comparação a 2021 e registro de 6.840 focos ativos no primeiro semestre de 2022 colocam Mato Grosso em estado de alerta. Em um cenário de incêndios florestais, os prejuízos se alastram como o fogo, perpassam a temática ambiental e causam danos à saúde tanto de quem vive nas localidades mais afetadas, quanto para moradores de outras cidades e até outras regiões do Brasil.

Na Unidade de Saúde da Família (USF) do Jardim Colorado, em Cuiabá, os profissionais já se preparam para os meses de agosto e setembro, quando o clima fica mais seco e a fumaça se espalha por diferentes pontos da capital.

Enquanto o Estado lidera o ranking de queimadas no País, as equipes de USFs e hospitais preveem uma maratona de atendimentos de pacientes com problemas respiratórios e de nebulizações, principalmente em crianças e idosos, os mais prejudicados pela inalação da fumaça.

É o que explicou à reportagem do Gigante 163 a médica de saúde da família Marina Koscheck.

“Infelizmente, com o aumento de casos de covid-19 e gripe, não é possível ainda atrelar o número de pacientes respiratórios à alta ocorrência de queimadas. Mas quem trabalha aqui já sabe que os meses de agosto e setembro são sempre bastante complicados por conta disso.”

Como ocorre?

Isso ocorre porque, na fumaça da queimada, são encontrados monóxido de carbono (CO) e materiais particulados, que ficam no ar após os incêndios. Tecnicamente falando, essas minúsculas partículas percorrem o sistema respiratório e transpõem a barreira epitelial (a pele que reveste os órgãos internos), atingindo os alvéolos pulmonares durante as trocas gasosas, chegando até a corrente sanguínea.

No caso monóxido de carbono (CO), ao ser inalado, ele atinge o sangue, onde se liga à hemoglobina, impedindo o transporte do oxigênio para as células e tecidos do corpo. É neste contexto que, segundo Marina, se desencadeiam quadros de rinite alérgica, tosse seca, falta de ar, dificuldade para respirar, dor e ardência na garganta, rouquidão, dor de cabeça, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos.

Pneumonia e câncer

Os sintomas, observados a curto prazo, contudo, podem agravar e prejudicar os pulmões, os vasos sanguíneos e o sistema imunológico, resultando em um processo inflamatório generalizado que pode causar a morte.

“Isso pode evoluir para uma pneumonia ou uma insuficiência respiratória. Aqui lidamos com atenção primária, então esses casos mais graves seguem para outras unidades. Ainda assim, se considerarmos o grupo dos idosos, observaremos que as mortes por essas causas não são raras.”

De acordo com ela, há ainda estudos que mostram que os materiais particulados podem causar câncer de pulmão, já que aumentam a inflamação, o estresse oxidativo e provocam danos genéticos nas células.

Em 2020, um levantamento da Fiocruz e do WWF-Brasil apontou que as queimadas na Amazônia foram responsáveis pela elevação dos percentuais de internações hospitalares por problemas respiratórios nos últimos 10 anos (2010-2020) nos Estados com maiores números de focos de calor: Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre. Estas internações custaram quase R$ 1 bilhão aos cofres públicos.

Precauções

A médica orienta que, especialmente ao longo dos próximos meses, sejam redobrados os cuidados relacionados à hidratação, principalmente em crianças menores de 5 anos e idosos maiores de 65.

“São dois grupos difíceis de fazer tomar água, mas, no caso das crianças, recomendamos pelo menos dois litros por dia e no caso dos idosos, pelo menos três”, pontua.

Manter os ambientes fechados também pode ajudar. Entretanto, é preciso apostar em umidificadores, vaporizadores, bacias com água e toalhas molhadas.

“As recomendações aqui são parecidas com as que adotamos para evitar a Covid-19, já que estamos falando de doenças respiratórias. Então é importante usar máscaras ao sair na rua, evitar aglomerações em locais fechados e optar por uma dieta mais leve. Em caso de urgência, é preciso procurar por ajuda médica imediatamente”, conclui.

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